Apoio do PMDB a Rigotto começa a sofrer os efeitos do pragmatismo eleitoral
Dora Kramer
Inicialmente unidas em torno da pré-candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, as cúpulas das alas governista e oposicionista do PMDB começaram a dar sinais de normalidade e voltaram a se dividir. A máquina partidária, vale dizer a direção formal e os caciques com destaque nacional, já não trabalha com o mesmo afinco contra o nome do ex-governador Anthony Garotinho.
Por uma questão de puro cálculo político: os pemedebistas de oposição estão se convencendo de que para derrotar o presidente Luiz Inácio da Silva seria mais conveniente fazer de Garotinho o candidato do partido e deixar que ele tire votos de Lula no mesmo terreno. O assistencialismo, conhecido por programa social quando a autoria é petista, e chamado de "populismo" se o patrono é Garotinho.
Brigam pelo mesmo eleitorado e, no campo de batalha, Garotinho, pela ótica agora em vigor no PMDB, seria um "batedor" mais vigoroso que Rigotto, um lorde pelos padrões considerados necessários na disputa que se avizinha.
Ninguém vai assumir de público tal movimentação, mas na prática é isso mesmo o que ocorre. Vários diretórios de Estados controlados por oposicionistas têm sido deixados, sem resistência, ao sabor da ofensiva de Garotinho. Eficiente, diga-se.
O ex-governador montou um sistema pelo qual cada eleitor da prévia de 19 de março recebe um telefonema com algumas perguntas sobre sua posição, opinião a respeito do pré-candidato e motivação para o voto.
Poucos dias depois, chega para ele uma carta assinada por Garotinho abordando aquelas mesmas questões, já adaptadas ao molde das respostas dadas no questionário telefônico. Em seguida, o eleitor recebe uma ligação do próprio pré-candidato que, aí, tenta consumar a conquista.
Há cerca de duas semanas, quando Rigotto foi lançado oficialmente como pré-candidato, a impressão era a de que o peso da máquina faria o resultado da prévia necessariamente pender para o lado dele. Hoje não conviria apostar nisso com tanta certeza.
À exceção de Orestes Quércia, nenhum líder pemedebista tem manifestado com firmeza e clareza sua posição a favor de um ou de outro. Os governistas não querem firmar um compromisso muito sólido com uma candidatura presidencial do partido, de forma a deixar espaço aberto para um recuo e possível apoio à reeleição de Lula.
E os oposicionistas estão observando o panorama relativamente à distância com o seguinte raciocínio: se o objetivo estratégico é derrotar Lula, taticamente o mais correto seria ter um candidato capaz de tirar votos dele e não um potencial sugador de votos tucanos no Sul e na classe média, onde tanto Rigotto quanto o PSDB transitam bem.
Além disso, os oposicionistas têm certeza de que, assim como Rigotto, no segundo turno - caso a etapa final seja mesmo disputada entre PT e PSDB - Anthony Garotinho não se aliaria a Lula e sim ao candidato tucano.
Bem, poderia se perguntar o leitor, e por que o partido não examina o problema sob a ótica de qual deles é o melhor para tentar ganhar realmente as eleições e governar o País com competência?
Porque isso equivaleria a dizer que o Brasil já atingiu um estágio mínimo de civilização política onde o interesse nacional estaria acima das conveniências individuais, ou regionais, para aplicar um pouco de boa vontade ao tema, e os partidos procurassem de fato atingir o poder por meio dos próprios méritos e não chegar lá através de atalhos para a formação de loteamentos governamentais.
Tarifas
O governador Geraldo Alckmin tem razão quando alega que o risco da saída da Prefeitura é um preço alto a ser pago pela candidatura de José Serra, caso seja ele o escolhido.
Mas o governador também não está tendo mãos ao medir o custo de seus movimentos bruscos para se mostrar o candidato mais viável na disputa interna no PSDB, promovendo episódios cada vez mais ousados no sentido de desqualificar o oponente.
Nesse ritmo, sem se preocupar com o "day after" da escolha, como se seu interesse se esgotasse na vitória de ser declarado candidato, termina repetindo a proeza de Marta Suplicy em 2004 e construindo em torno de José Serra a imagem de uma doce, disciplinada e cordata figura.
Valeria a Geraldo Alckmin lembrar que boa parte da simpatia que desperta é fruto de um comportamento oposto ao exibido por ele nas últimas semanas.
Que tem, tem
A tal lista de Furnas com o nome de 156 políticos que teriam recebido ilegalmente dinheiro da estatal para financiamento de campanhas pode até ser uma fraude, mas que independentemente da lista existe um "caso Furnas" a ser esclarecido, quanto a isso não resta a menor dúvida.
Aliás, a versão da lista tem cheiro, cor, jeito e sabor de disfarce para desacreditar por antecipação qualquer denúncia relativa à estatal e suas suspeitas transações com o mundo político, notadamente o mineiro. De todos os matizes partidários.