A entrada da China e da Índia no cenário internacional como expressivos produtores, consumidores e exportadores acirrou a competição entre empresas de médio e grande portes e tenderá a expô-las a uma crescente exigência de inserção no mercado global para poder sobreviver.
A internacionalização da empresa brasileira começa a ser uma condição necessária para a obtenção de melhores condições de acesso à tecnologia de capitais, de cultura empresarial e, naturalmente, de mercados.
O conceito de internacionalização deve ser entendido como a prática contínua de qualquer operação internacional por uma empresa, seja pela via da exportação, seja por formas mais sofisticadas de inserção externa, como o estabelecimento de alianças estratégicas com parceiros no exterior, as várias formas de associação entre empresas, a aquisição de empresas em outros países e a instalação de subsidiárias para produção local.
A disposição das empresas de se internacionalizar talvez seja o indicador que melhor sinalize as suas possibilidades de êxito e até mesmo, em alguns casos, de sobrevivência. O acirramento da competição não se dará apenas no contexto externo. A maior abertura dos mercados e a tendência de ampliação de compromissos derivados de acordos de livre-comércio trarão a pressão da concorrência cada vez mais para o terreno do mercado doméstico.
A proliferação de acordos bilaterais e regionais de livre-comércio vem provocando gradual deterioração das margens de preferência para países de fora dessas áreas. A internacionalização via compartilhamento de oportunidades e de riscos com parceiros nesses países constitui uma boa alternativa para contornar barreiras à importação e melhorar o acesso a mercados.
No caso brasileiro, o processo de internacionalização das empresas, ainda que insuficiente, apresenta importantes sinais de avanço. A abertura da economia, a interrupção do processo inflacionário e a profunda reestruturação por que passou a estrutura produtiva na década passada fizeram o trabalho inicial de romper o quadro de isolamento da economia mundial em que vivia grande parte da indústria brasileira.
A contínua expansão das exportações nos últimos anos é, em grande parte, resultado dessas mudanças, ao que veio se somar, mais recentemente, uma melhoria sem precedentes nos termos de troca de nosso comércio, empurrado pelo aumento de preços no mercado internacional de alguns importantes itens de nossa pauta de exportação.
Observando-se a questão sob o ângulo da presença direta de empresas brasileiras em outros países na forma de alianças, de associações, ou de instalação produtiva, percebe-se um claro amadurecimento dessas ações. Aumenta a percepção de que essa nova fase resulta em ganhos líquidos expressivos para a nossa economia e para o emprego, na medida em que fortalece a competitividade das empresas nacionais no mercado externo e também no interno.
Não existem indicadores específicos de quanto as empresas brasileiras estão investindo no exterior - cerca de 10% do produto interno bruto (PIB) -, em razão de as estatísticas oficiais relativas a investimentos diretos englobarem tanto investimentos produtivos como outras formas de operação de brasileiros no exterior.
O processo de internacionalização está no seu início, e os investimentos se concentram nos EUA, na Argentina, na China e na Bolívia.
De acordo com recente estudo sobre a internacionalização da empresa brasileira encomendado pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), é cada vez mais significativo o universo de pequenas e médias empresas que aos poucos vêm passando por mudanças culturais e de gestão, com o objetivo de intensificar ou de dar início a um processo de internacionalização.
O estágio de internacionalização de nossas empresas ainda é insuficiente se comparado a padrões observados em países emergentes com presença agressiva no mercado internacional. A participação do comércio exterior brasileiro no comércio mundial, pouco acima de 1% - em decorrência, entre outras razões, do reduzido coeficiente exportação/vendas totais da média de nossas empresas -, é incompatível com a dimensão da economia. Outro indicador, de natureza cultural, é a freqüente falta de "exposição" do empresário brasileiro ao mundo de negócios internacionais e o desconhecimento de seus aspectos regulatórios.
Recente seminário na Fiesp sobre a internacionalização das empresas brasileiras contou com a participação dos professores José Roberto Mendonça de Barros e Lídia Goldenstein, de representantes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da WEG, empresa do setor privado com história de ousadia e de sucesso nessa matéria. A principal conclusão foi a de que é necessária uma atitude proativa para acelerar esse processo, por parte de entidades empresariais, acadêmicas, do setor público e, naturalmente, das próprias empresas.
Na área governamental é necessário um esforço negociador para superar entraves técnicos que impedem a celebração de acordos de bitributação do Brasil com parceiros de vital importância, como é o caso dos EUA e do Reino Unido. A ausência desses acordos representa grande desvantagem para nossas empresas na busca de ocupação de espaços. Caberia ainda examinar formas de dedução fiscal dos investimentos realizados no exterior.
No que tange ao BNDES, sua instrumentalização como agente de internacionalização das empresas poderia dar importante impulso ao processo, assim como a abertura de agências em alguns mercados-chave, de forma a promover oportunidades e oferecer apoio creditício.
Diante do atual quadro de globalização e de competição no mercado mundial, a internacionalização das empresas não é mais uma opção, é uma realidade que se impõe para a sobrevivência das empresas competitivas brasileiras