o globo
O PT, que perdera a influência nas negociações políticas devido à crise em que se debate e que corrói sua credibilidade, voltou a ser o fiel da balança no processo de destituição do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti. Recuperou a capacidade de negociar não por méritos próprios, mas inercialmente, pelo fato de ser a maior bancada da Câmara.
Mostrará agora se está capacitado a exercer a arte da negociação, nesse processo que só não será longo e penoso se for atropelado por uma prova documental, como o tal cheque que teria sido sacado por um motorista do então primeiro-secretário da Câmara.
O PT poderá, porém, continuar enrolado em seus próprios problemas internos, sem conseguir ter uma visão política mais ampla e generosa. Um exemplo de como as disputas próprias de um partido dividido em facções interferem nas negociações é a recente pescaria que o ex-ministro José Dirceu fez, levando consigo o deputado Sigmaringa Seixas. Apontado como um dos possíveis candidatos do PT para a presidência da Câmara, Sigmaringa passou a ser o candidato de Dirceu, e perdeu assim sua condição de candidato de consenso.
O PT claramente se debate entre a visão apequenada de apoiar Severino, com a esperança de que com ele na presidência uma eventual tentativa de impeachment do presidente Lula será barrada, e uma atitude política que resgate parte do prestígio junto a seus eleitores e, mais que isso, ajude a melhorar a imagem da Câmara, e dos políticos de maneira geral, junto à opinião pública.
Se, no pior dos casos, mantiver a decisão da bancada de não assinar requerimento pela cassação de Severino e decidir explicitar um apoio que ficou implícito na reunião que o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, aceitou ter com o presidente da Câmara antes da entrevista coletiva em que este anunciou a decisão de não se afastar do cargo, o PT estará perdendo uma chance de se manter ao lado da opinião pública. Mais que isso, estará assumindo a paternidade de uma candidatura que nunca foi integralmente sua.
Na verdade, o PT ajudou a eleição de Severino menos com votos, e mais com a desagregação de sua bancada, dividida pela escolha de Luiz Eduardo Greenhalgh como candidato oficial. Assim como a oposição ajudou na eleição no segundo turno com votos do PFL, de parte do PSDB e do grupo de Garotinho no PMDB.
Por isso o deputado Chico Alencar, da esquerda do PT, diz que não é correto tratar o caso como uma contraposição de governo versus oposição, pois houve de tudo naquela madrugada e a derrota, "das raras que o PT tivera até então, nos honrou: é melhor perder do lado de uma boa causa do que vencer na neblina, na mistura de interesses difusos e confusos".
A esquerda do PT acha que o momento é bom para resgatar a autonomia do Legislativo. "Nós, do PT, precisamos sair desta timidez, desta inibição, e exigirmos que Severino se licencie, ou ao menos não presida as próximas sessões, para apuração sumária das denúncias e para o andamento da pauta", diz Alencar. "Será grave erro político se, mais uma vez, o PT ficar na ambiguidade, sem nos confrontarmos com aquele que, sem o nosso voto, tornou-se um presidente de si mesmo, do seu discurso atrasado, de seu ultra-conservadorismo, enredado pelas suspeitas que sobre si pairam, e que, de fato, carecem de comprovações — isto é, de investigação".
Mas, como vem sendo marcante nesse processo em que agoniza em praça pública, há no PT quem prefira apoiar Severino a marchar junto à oposição, como decidiu a bancada na Câmara ontem. E, para esses, a questão é, sim, governo versus oposição. A representação contra Severino deve ser entregue só amanhã, para dar tempo a que mais partidos adiram a ela, especialmente o PT. E também no aguardo de que apareça o famoso cheque sacado por alguém do gabinete de Severino.
Não há ninguém entre os principais líderes políticos que não acredite que Severino fez o que o concessionário do restaurante o acusa de ter feito. Mas uma prova documental mais forte facilitaria as coisas, até mesmo para que o presidente da Câmara aceitasse o afastamento temporário até o fim das investigações. Havia quem considerasse ontem a possibilidade fazer um acordo com Severino, preservando-lhe o mandato de deputado em troca da renúncia definitiva à presidência da Câmara.
A teoria do "mal menor" tem lá seus defensores, mas parece frágil diante das evidências que se acumulam, e da necessidade de dar uma satisfação ao eleitorado. O saque de R$ 40 mil no mesmo dia em que foi assinado o documento de prorrogação da concessão é indício forte de que o que Buani relata é verdadeiro. Ainda mais se ficar provado que o documento é verdadeiro, e não uma falsificação como alega o perito de Severino.
Mas ainda não é suficiente para fazer com que o PT se mexa, transformado em uma imensa máquina burocrática conservadora, que se movimenta vagarosamente, sempre no sentido de manter o poder conquistado, mesmo quando esse poder, como no caso da presidência da Câmara, caiu-lhe no colo por esses azares da política e pode lhe causar mais danos à imagem.
Um dos argumentos que está sendo usado para pressionar o PT a aderir ao movimento contra Severino é pragmático como o partido pretende ser: Severino cairá, mais cedo ou mais tarde. Nesse primeiro momento, o PT tem condições de fazer o sucessor, de comum acordo com os demais partidos. Se entrar no final do processo, o PT perderá o poder de barganha que recuperou sem que tenha lutado por isso, e será superado pelos fatos políticos.
Entrevista:O Estado inteligente
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