Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 02, 2005

EDITORIAL DO JB Colapso


Furacões não são novidade no Sul dos Estados Unidos, mas o Katrina virou o castigo do Céu. Demoliu cidades, moveu prédios e afogou Nova Orleans em uma tragédia de proporções bíblicas. Contra tamanha força destrutiva, governos pouco podem fazer. O problema é justamente esse. Quando a fúria da natureza amainou, a responsabilidade dos homens, chamada às falas, evaporou-se.

O sobrevôo do presidente George Bush na região é o simbolismo perfeito: um governo pleno de idéias e recursos, porém ainda distante da realidade imediata de milhares de cidadãos para quem a sobrevivência se mede em horas. À força, ainda virtual, de mais de 7 mil soldados, criada para impor a lei, contrapôs-se o saque por comida e água, a paralisia das ações de socorro e a anarquia social. O Estado sumiu em Nova Orleans. Em seu lugar, ficou uma área tribal.

O dramático relato de duas brasileiras presas num estádio, no qual milhares de famintos se transformaram em feras, reforça a impressão de que Washington só é eficiente quando a mobilização traz ganhos políticos - como no tsunami e na guerra ao terror.

O público americano vê a asséptica cobertura das tevês sem noção de que os prejuízos de US$ 26 bilhões são a parte imediata da tragédia, com reflexos a médio e longo prazos. O Golfo do México produz um terço do petróleo dos EUA, um quinto do gás natural, tem portos que movimentam mais de 40% da exportação de grãos. A alta dos combustíveis e o colapso no Mississipi podem baixar 1 ponto percentual do crescimento americano no último trimestre.

A dificuldade de fazer o gerenciamento da crise deixar os gabinetes da maior potência do planeta surpreende diante do conhecimento adquirido em anos de lida com furacões. Ver desabrigados morrendo de sede e falta de atendimento médico no meio da rua escapa à compreensão. O mundo se pergunta como os helicópteros puderam levar água e comida tão rápido aos confins da Indonésia e não conseguem salvar Nova Orleans.

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