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Dois vexames marcaram hoje a cerimônia de formatura dos novos diplomatas brasileiros e de entrega por Lula da Ordem do Rio Branco a diplomatas e personalidades brasileiras e estrangeiras reunidas no Palácio do Itamaraty. A condecoração, criada em 1963, é uma homenagem ao patrono da diplomacia brasileira, o Barão do Rio Branco.
Primeiro vexame
Todos os agraciados foram bastante aplaudidos - entre eles, o escritor Luis Fernando Veríssimo, o ministro Gilberto Gil, da Cultura, e o cineasta Nelson Pereira dos Santos. Menos um: Severino Cavalcanti, presidente da Câmara dos Deputados.
Um silêncio constrangedor e interminável seguiu-se ao anúncio da entrega da condecoração a Severino.
Segundo vexame
O discurso lido por Lula ía muito bem até que ele resolveu improvisar. E ao fazê-lo, provocou a maior saia justa no ambiente. Lula decidiu elogiar seu assessor especial para assuntos internacionais Marco Aurélio Garcia, uma sombra que incomoda o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores.
E disse coisas como:
- Eu me lembro que quando eu chamei o Celso Amorim e, logo depois, convidei o Marco Aurélio para trabalhar como meu assessor, não faltaram pessoas que tentaram criar disputas de que eu tinha um chefe das relações internacionais e um assessor especial e que, portanto, ia ter um confronto entre os dois. Saíram matérias, no começo precisou-se explicar, e eu acho que é importante dizer: a relação entre Celso Amorim, que cumpre a função institucional de ser ministro das Relações Exteriores, e a relação com Marco Aurélio, que cumpre uma outra função tão nobre quanto se tivesse o título de ministro ou de embaixador, que faz um trabalho que possivelmente qualquer um outro e até eu, teria dificuldade de fazer, porque o Marco Aurélio vem de uma relação com a esquerda da América Latina e a esquerda européia, que eu acredito que poucas pessoas tiveram o prazer de dizer isso em todo o tempo em que ele foi secretário de Relações Internacionais do PT.
- E, para nossa felicidade, muitos companheiros que eram militantes de esquerda na década de 80 estão se transformando em governo. Então, nós passamos a ter uma relação privilegiada com presidentes e com ministros que eram militantes, junto conosco, do Foro de São Paulo, tentando encontrar uma saída democrática para a esquerda na América Latina.
- Essa função de assessor especial é uma função que permite, ao mesmo tempo, a gente ter uma relação de alto nível com o presidente de um país e, ao mesmo tempo, ter uma relação de alto nível e de confiança com a oposição daquele país, com os sindicatos daquele país, com os grupos indígenas, com o movimento social, porque é uma relação construída ao longo de 15 ou 20 anos. Não é uma coisa que aconteceu porque alguém tem um cargo, é uma coisa que aconteceu porque nós temos uma relação.
- Então, eu quero, Celso Amorim, falar isso porque já estamos com 32 meses de governo e eu acho que você e o Marco Aurélio deram uma dimensão extraordinária de que é possível a gente construir não apenas a grande diplomacia brasileira, mas é capaz de fazer mais do que isso, a gente é capaz de ir à Bolívia conversar com os presidentes, conversar com os senadores e depois chamar o Evo Morales e conversar com ele com a mesma respeitabilidade, com o mesmo grau de reconhecimento, e assim vale. Foi isso que permitiu que a gente conseguisse criar o Grupo de Amigos para ajudar a Venezuela, porque ao mesmo tempo que a gente conversava com o Chávez, ao mesmo tempo que a gente conversava com a direita na Venezuela, a gente conversava com os setores de esquerda da Venezuela, para que houvesse essa compreensão.
Quer dizer: na cabeça de Lula, um ministro das Relações Exteriores não dá conta de conversar à direita e à esquerda. Ou se dá, Amorim não é esse ministro.