Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, setembro 15, 2005

CLÓVIS ROSSI A comédia da vida pública

folha de s paulo

  SÃO PAULO - Agora que a cota de indignação de uma substancial parcela do distinto público parece ter sido devidamente preenchida, suspeito que só reste um caminho: rir. Afinal, a política brasileira transformou-se progressivamente em uma grande pantomima, para não dizer palhaçada.
O dia, ontem, começou rico, aliás, nessa matéria, do que dava prova o rodapé que a GloboNews inseriu em seu noticiário: "O cheque aparece; Severino some".
Tinha-se, naquele momento, a Câmara se preparando para votar a cassação de Roberto Jefferson, por falta de decoro, e o presidente da Casa refugiado na sua residência (sua, não, nossa) ante a comprovação de sua própria falta de decoro.
Mais farsesco do que isso, só no "Casseta e Planeta".
Ah, e por falar em farsesco, pouco depois Roberto Jefferson aparecia desfilando pelo plenário, ele que é a encarnação da ópera-bufa. Indecoroso confesso, "troglodita" assumido, não obstante recebia tapinhas no ombro, solidariedade no olhar, como se se tratasse de um impoluto homem público por ter denunciado a falta de decoro dos outros depois de pilhado na sua própria.
Na véspera, aliás, houvera o beijo do tal Professor Luizinho em José Genoino, ambos réus confessos de "dinheiro não-contabilizado", linguagem de resto adequada para uma trama farsesca, como se as palavras certas pudessem ofender os ouvidos públicos, mas as atitudes incorretas não fossem mais infamantes.
Usualmente, são os membros da máfia que beijam seus iguais nesse tipo de situação.
Mas a comparação não seria justa, porque, como afirmou um deputado cujo nome agora me escapa, em um dos interrogatórios, esquemas mafiosos têm sempre um chefe. No Brasil da grande pantomima, ninguém sabe, ninguém viu, ninguém mandou, mas muita gente fez.
Tudo somado, a escolha ficou entre rir ou vomitar.

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