Entrevista:O Estado inteligente

domingo, setembro 18, 2005

CLÓVIS ROSSI Aberrações

FOLHA DE S PAULO
SÃO PAULO - O Brasil parece que se vai habituando à anomalia, que passa a ser vista ou com indiferença ou até como normalidade.
Pegue-se, entre tantos outros, o caso de Severino Cavalcanti. Já a sua eleição para presidir a Câmara era uma anomalia. No entanto o país acostumou-se com ele no cargo durante sete, oito meses, com direito até às medalhas que se entregam aos ocupantes do posto, sem olhar os méritos, mas apenas o posto. Foi preciso um cheque para descobrir a anomalia, embora ela sempre tenha estado lá.
Agora, tem-se que o terceiro homem na linha sucessória da Presidência da República, presidente de uma das Casas do Parlamento, é um prisioneiro de si mesmo, na casa que foi construída com dinheiro público e é por ele mantida.
Não sai de lá a não ser para a ridícula cena de cobrir o rosto com um jornal na única vez em que saiu.
Salvo pelo fato de que usava carro oficial (de luxo, como todos os carros oficiais), com motorista, e de que não havia algemas, parecia cena daqueles programas policiais em que os presos cobrem o rosto com a blusa, a camisa, o que tiverem à mão.
E não é que ninguém se espanta com o fato de haver um prisioneiro no Lago Sul de Brasília?
Não é tudo: o prisioneiro faz chantagem. Avisa pela boca de um de seus fiéis (outra anomalia, mas é o Brasil), o deputado João Caldas (PL-AL), que "vai para o cadafalso, mas vai levar muita gente junto".
Será que a nenhum deputado, senador, homem público ocorre perguntar como é que um funcionário relevante como o presidente da Câmara, se tem elementos para incriminar "muita gente", se calou até agora? Será que ao próprio João Caldas não lhe ocorreu exigir que os nomes e fatos fossem revelados pelo prisioneiro do Lago Sul?
Não, não ocorreu nem a Caldas nem a ninguém, a rigor. No Brasil, aberração e anomalia são a norma. Loucos são os que as enxergam.

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