Artigo |
Jornal do Brasil |
19/3/2007 |
O noticiário no Brasil, na América Latina e no mundo tem sido desalentador. Ler a seção política de jornais e assistir a telejornais é um enorme exercício de paciência e de luta interior, para controlar a justa indignação que toma conta de nós. Recolhi ao acaso cinco exemplos esparsos de disparates veiculados pela imprensa, quatro no Brasil e o último na América Latina. Os três primeiros vieram do campeão brasileiro em cometê-los, o presidente. Talvez pelas pressões para transformar a sexóloga Marta em ministra, nosso falante mandatário desandou a falar sobre sexo. Primeiro, dizendo que a não distribuição de preservativos pelo governo seria uma "hipocrisia". Que belo exemplo moral para um primeiro mandatário! Equivale à afirmativa de que, se todos quisessem ser assaltantes, não importando estarem errados, o Estado deveria entregar-lhes armas! Depois, alardeando, de modo bordalengo, quando da visita de Bush a São Paulo, que o Brasil e os Estados Unidos deveriam esforçar-se para encontrar o ponto G. Bem, como se trata de dois substantivos masculinos, provavelmente estava se referindo a uma busca homossexual entre ambos... Por fim, simplesmente, destruiu séculos de Teoria Econômica, por ocasião do cômico episódio dos pênaltis que bateu no Maracanã, descalço e com as calças arregaçadas, contra o nosso brioso governador (um complacente frangueiro). Ao liberar mais verbas para o Pan, declarou, diante de microfones e câmeras: "Tem gente no Rio de Janeiro que tem a hipocrisia de dizer que, se dermos dinheiro para o esporte, faltará para outros setores" (a frase não foi exatamente esta, mas foi muito parecida). Nosso presidente ainda não intuiu a chatice que é o fato de a economia só existir por causa do problema da escassez, algo que se aprende na primeira aula da ciência de Adam Smith, em qualquer sala de aula do mundo. A quarta tolice veio do ministro da Fazenda, ao dizer que ordenaria ao Banco Central cumprir à risca o centro da meta de inflação em 2007 e 2008 (4,5%), não aceitando que o mesmo entregue no fim deste ano a inflação em 3,14%, como em 2006, graças a uma dosagem considerada "exagerada" da taxa básica de juros. Mamma mia, paesano, che sbaglio! Os economistas e políticos da ala retrógrada do governo - que se auto-intitulam "desenvolvimentistas" - ainda crêem piamente, após décadas de evidências contrárias, que o Banco Central pode estimular permanentemente a economia com taxas de juros artificialmente baixas, como se houvesse uma escolha entre inflação e desemprego. Mantega estudou com economistas heterodoxos, caso contrário saberia que tal escolha não existe, pelo mesmo motivo que não se pode escolher entre comer demais e ter indigestão. Ao reduzir a taxa básica artificialmente (ou seja, sem o respaldo das reformas estruturais do monstrengo comilão que é o Estado brasileiro) e - o que é pior - com o agravante de que está aceitando uma inflação maior, não haverá boom de investimentos nem mesmo a curto prazo, e a inflação escapará de controle rapidamente. O desemprego decorre da inflação: esta, a longo prazo, gera aquele, desativando qualquer aventura heterodoxa e/ou política de crescimento! A quinta asneira partiu do atual campeão mundial, Hugo Chávez, neoditador da Venezuela. Imaginem se um presidente de um país europeu, a Itália, por exemplo, organizasse uma passeata, digamos, em Lisboa, pagando o transporte dos seus participantes, para protestarem contra a visita do presidente dos Estados Unidos, suponhamos, à Espanha... Atitude inadmissível para povos civilizados, mesmo com o jeito latino de viver. Pois o Chapolin de Miraflores, quando da visita de Bush ao Brasil, foi a Buenos Aires e, sob a condescendência do presidente argentino, armou o seu espetáculo de quinta categoria, cercado das bandeiras vermelhas do atraso. Tinha razão Roberto Campos: não há mesmo perigo de melhorar... |
Entrevista:O Estado inteligente
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segunda-feira, março 19, 2007
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