Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 31, 2007

VEJA Carta ao leitor


Um passo na direção certa

André Dusek/AE
Deputados no plenário da Câmara: é preciso dar um basta ao ninguém-é-de-ninguém da fisiologia

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deu uma grande contribuição à depuração da democracia brasileira, ao afirmar que os mandatos parlamentares pertencem aos partidos, e não aos cidadãos eleitos. Um dos pressupostos dos ministros do TSE é o de que a maioria esmagadora dos deputados federais (e estaduais e vereadores) se elege graças não aos votos dados a eles próprios, mas à agremiação pela qual se candidatam, como prevê a aritmética do sistema proporcional ora em vigor. De acordo com o TSE, somente 31 dos atuais 513 deputados federais tiveram votos nominais suficientes para chegar à Câmara. Os ministros também levaram em conta outra premissa, esta de fundo: a de que os protagonistas da democracia representativa são os partidos, e não as figuras dos políticos, já que os primeiros constituem a expressão legítima das diversas correntes de opinião que coexistem numa sociedade pluralista. De onde a incongruência de considerar o mandato como parte integrante do patrimônio privado de um indivíduo, do qual ele pode dispor a seu bel-prazer.

A interpretação do TSE não tem força de decisão, mas permite a uma agremiação pleitear de volta, na Justiça, o mandato de um parlamentar seu que resolva mudar de sigla. Ou seja, abre caminho para barrar o indecente ninguém-é-de-ninguém fisiológico que, a cada legislatura, só faz inchar a base governista – qualquer que seja ela. Para se ter uma idéia, desde a última eleição, em outubro, 23 deputados federais da oposição bandearam-se para as hostes do governo – traindo, assim, não só os seus partidos originais, como os votos dos eleitores descontentes com a atual administração. Na falta de uma reforma política feita pelos próprios políticos, o Judiciário emitiu um sinal vigoroso na direção desse sonho de uma noite de verão chamado fidelidade partidária. Se se conseguir que os parlamentares sigam nas agremiações que os elegeram, talvez seja possível construir partidos mais bem estruturados, menos venais e com plataformas que os distingam. Ganharia o eleitor em nitidez. Ganharia o país com uma democracia verdadeiramente representativa.

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