Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 28, 2007

Vôo cego


EDITORIAL
O Globo
28/3/2007

Ao sair do almoço oferecido ontem ao primeiro-ministro da Itália, Romano Prodi, em Brasília, o presidente Lula cobrou uma solução para a crise aérea. Não foi a primeira vez, nem deverá ser a última. Se o histórico administrativo do governo não é dos mais abonadores mesmo fora das crises, no apagão aéreo, que persiste desde outubro - iniciado após a queda do avião da Gol, em fins de setembro -, ele é algo mais do que desastroso. Mesmo o presidente da República desconhece o que se passa de fato. Prova disso está na declaração de ontem: "Eu disse a eles (os subordinados) que quero um diagnóstico. Não quero versão." É o que o país tem recebido nesses seis meses de crise, cujo desfecho continua imprevisível: versões, e quando muito.

Aquele desastre, o mais grave da aviação brasileira dentro do país, serviu para abalar a confiabilidade de um sistema de tráfego aéreo que se tinha por bastante seguro. Logo depois, veio o movimento dos controladores de vôo, o qual o governo, por cacoete ideológico, tratou de politizar, permitindo que líderes sindicais participassem das primeiras negociações. No mínimo, criou um relacionamento difícil entre o ministro da Defesa, Waldir Pires, e a Aeronáutica, imprevidência que teria desdobramentos futuros, com mudanças na cúpula da Força Aérea.

Enquanto a operação padrão dos controladores engarrafava pátios de aeroportos, congestionava céus sobre grandes cidades e convertia salões de terminais em grandes e precários albergues, surgiram na imprensa provas irrefutáveis de problemas técnicos na rede de radares e de comunicação entre torres e pilotos.

Ficou evidente que, em parte, o apagão é resultado da baixa prioridade dada à infra-estrutura nos gastos públicos, por privilegiarem o assistencialismo.

Os problemas dos últimos dias, em que se descobriu que o sistema de aterrissagem por instrumentos de Guarulhos estava inoperante desde 28 de fevereiro, foram mais uma prova da incapacidade gerencial existente no circuito entre o Ministério da Defesa, a Infraero, a Aeronáutica e a Anac. Este parece ser um dos maiores buracos negros da administração pública. Já passou da hora de se saber ao certo o que ocorre no tráfego aéreo, quais as medidas tomadas para o equacionamento dos problemas e em que prazo.

Esta é uma missão para o próprio presidente da República. Ele deve sair da posição de fazer cobranças como se fosse um cidadão comum e usar o poder recebido dos eleitores para tirar o setor dessa grave crise.

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