Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 27, 2007

Eliane Cantanhede - Multiplicação de aliados




Folha de S. Paulo
27/3/2007

A cada pesquisa de popularidade, Lula fica ainda mais vaidoso, mais falastrão e mais desinibido para fazer o que quiser, sem se considerar obrigado a dar satisfação de qualquer coisa para quem quer que seja.
Os números do Datafolha no último domingo certamente vêm reforçar ainda mais esse lado de Lula que desabrochou com o poder e que veio para ficar. Apesar da queda de 52% para 48% nos índices de ótimo e bom, especialmente entre os mais pobres, menos escolarizados e do Nordeste (menos 9%), Lula manteve no Datafolha uma expressiva aprovação para um presidente em segundo mandato.
Mensalão? Quebra de sigilo do caseiro? Compra de dossiê? A queda dos principais homens do poder como num castelo de cartas? Ninguém lembra mais disso, como ninguém faz a menor questão de ficar discutindo a responsabilidade do governo no apagão aéreo, na crise de segurança, nas quedas preocupantes do desempenho na educação, no PIB quase haitiano (apesar de recauchutado).
Insuflado pela aprovação popular, pela falta de crítica e pela até perplexidade da oposição, Lula se sente cada vez mais liberado e em estado de "eu posso tudo". Pode dizer que usineiro é herói, que Collor fará um mandato "excepcional", que Putin "ficou meio putin" e que as relações Brasil-EUA estão atingindo o "ponto G".
Já imaginou se fosse qualquer outro presidente falando esse tipo de barbaridade? Mas Lula é Lula, e tudo o que parte dele é automaticamente apoiado, ou perdoado. O ridículo vira "estilo popular". Como também pode nomear Geddel Vieira Lima ministro de qualquer coisa, trocar juras de amor com Collor e Inocêncio, liberar o PT para articulações incríveis com Maluf. Só falta a reconciliação com Roberto Jefferson.
Lula se sente o rei da cocada preta. Talvez seja mesmo.

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