O consumo, nos últimos anos, vem crescendo mais que o PIB. Esta semana, o novo cálculo do Produto Interno Bruto, mais preciso, indicou que o consumo é mais importante no produto do país do que se imaginava. Também esta semana, um levantamento amplo da Nielsen mostrou que o aumento do consumo dos 157 produtos que ela acompanha foi novamente maior que o PIB: cresceu 5,1%.
Os dados da Nielsen vêm contando uma história de ampliação do consumo desde o Plano Real. De 1994 para cá, o índice de consumo dos produtos que acompanha praticamente dobrou: cresceu 94%!. No último ano, 54% dos itens pesquisados tiveram uma venda maior, 34% ficaram estáveis e só 11% caíram. Em 2005, foram 64% os que melhoraram. Mas o recorde foi mesmo na virada da estabilização, em 1995, quando 95% dos itens melhoraram, e apenas 5% ficaram estáveis. Nenhum caiu.
— Com o fim da inflação, o cálculo é de que R$ 1 bilhão teriam entrado na economia naquele ano — comentou o diretor comercial da Nielsen, Arthur Bernardo Néto.
A Nielsen separa seus produtos em oito cestas de consumo.
Em 2006, foram os perecíveis que mais cresceram em volume: 10,6%. Quem garantiu o número alto foram os iogurtes “funcionais”, aliás, respeitando a tendência de que agora ninguém mais vai comer um alimento ou outro, e, sim, seus nutrientes. Por exemplo, não se comerá mais pão integral, mas “fibras”. Os funcionais fizeram a categoria de iogurtes crescer 14%.
Outra tendência: mesmo quando o mercado está mais parado, os produtos diferenciados vendem mais.
Em seis das oito cestas, houve queda de preço. Cada caso um caso, mas um ponto em comum foi a redução do tamanho das embalagens, ou mesmo a troca para embalagens mais baratas. O preço só subiu entre as bebidas alcoólicas e as não-alcoólicas.
Ambas cresceram forte em volume também, em torno de 6%. Nas não-alcoólicas, o resultado foi garantido pelo suco pronto e pelas novas águas minerais com sabor.
De olho neste mercado com enorme potencial, a CocaCola anunciou esta semana a compra das operações da Matte Leão, empresa que cresceu 20% só no ano passado.
Em 2005, a Coca começou a investir pesado em outras bebidas que não os refrigerantes. Em julho de 2005, compraram a Sucos Mais no Brasil, e, no fim de 2006, a matriz americana adquiriu a Sucos Del Valle, do México. Aqui, esperam a aprovação do Cade.
— Namorávamos a Matte há alguns anos. Já estamos no segmento de chá gelado há algum tempo, mas, curiosamente, esse mercado não afeta em nada o do mate — diz Sandor Hagen, diretor de novas bebidas da Coca-Cola.
A Coca-Cola ainda vê potencial de crescimento para os refrigerantes, mas enxerga um grande espaço para aumentar o consumo de outras bebidas, mais ligadas ao conceito de saúde. No caso do Matte, o que ainda falta é distribuição. Embora ele seja um ícone das praias cariocas, dificilmente é encontrado no estado vizinho, São Paulo.
Ainda que as “novas bebidas” da Coca-Cola tenham crescido o dobro dos refrigerantes, Hagen não acredita na migração de um produto para o outro. Ele acha que o consumo de outras bebidas prontas é uma tendência mundial que só agora chega ao Brasil. No Japão, conta, há anos que já se vende café pronto para o consumo. Aqui, vai ser difícil abrir mão do café quentinho na hora.
Neste campo da migração dos produtos, os dados da Nielsen indicam que os sucos prontos e as bebidas à base de soja têm substituído os sucos concentrados. Enquanto os primeiros cresceram 5% e 16%, os conhecidos como “sucos de garrafa” caíram 6%.
O curioso é que o suco de garrafa, com rendimento pelo menos cinco vezes maior, tem um preço nominal semelhante ao suco pronto e, mesmo assim, sua venda cai.
Coisas do consumidor moderno, que pede praticidade ao extremo.
Apesar de os dados de crescimento do consumo do Brasil terem sido bons em 2006, eles foram considerados baixos na comparação com seus pares. Maiores apenas que os do México — país, segundo os especialistas, com características de consumo bastante semelhantes às nossas —, mas menores que os da Colômbia e da Argentina.
Até hoje, em 80% dos domicílios, é a mulher quem define o produto que será comprado. A Nielsen faz visitas quinzenais a 8.700 famílias no país para tentar entender melhor as decisões do consumidor e as diferenças regionais.
— Percebemos que só a questão socioeconômica era insuficiente para entender o que acontecia no consumo — afirmou Mário Lynch, diretor de marketing da Nielsen.
Além disso, há uma outra questão: num país com tantas peculiaridades regionais como o Brasil, não se consegue imaginar que haverá um padrão de consumo único.
O Nordeste, por exemplo, consome muito mais desodorante e quase 100% do rum, enquanto sopas prontas e chá são, devido ao calor, mais comuns no Sul. Na região, segundo os números da Nielsen, 82% dos domicílios têm máquina de lavar, contra 20% no Nordeste. Metade tem automóvel, contra 18% no Nordeste. O computador está em 24% dos lares no Sul e apenas em 8% do Nordeste, dados que combinam com os números divulgados ontem pelo IBGE. De acordo com esse mesmo levantamento do instituto, os celulares estão com presença forte em todo o país: 59,3% no total dos domicílios, 42,5% no Nordeste, 71,8% (a maior do país) no Sul e 64,4% no Sudeste.
Os computadores, cujas vendas aumentaram ano passado ajudando fortemente no crescimento registrado pela indústria, continuam bem em 2007, com a ampliação da isenção de impostos.
— Este ano será novamente dos computadores e, agora, também dos notebooks — comentou Jorge Tschorny, da Aiko, que faz computadores e celulares na Zona Franca. E que, este ano, deverá produzir cinco vezes mais computadores que em 2005.
Entrevista:O Estado inteligente
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