Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, março 27, 2007

Clóvis Rossi - Estatizar o Estado




Folha de S. Paulo
27/3/2007

Poucas coisas contam tanto a respeito do colossal retrocesso do Brasil como o fato de que três de seus principais governadores foram à Colômbia tomar lições de como tratar a questão da segurança pública.
A Colômbia era sinônimo de violência absurda até muito recentemente. Brasileiro que quisesse se informar a respeito do tema iria a Nova York, talvez à Europa, jamais a qualquer país latino-americano, menos ainda à Colômbia.
Mesmo agora, com os bons resultados obtidos no combate à criminalidade, o país vizinho está muito longe de ser modelo. No entanto, como o Brasil é, nesse capítulo (e em tantos outros), a mais perfeita esculhambação, até a Colômbia serve como professora. Serve até bem, se se prestar atenção às declarações do ex-prefeito de Bogotá no período 1998/01, Enrique Peñalosa, na entrevista a Sergio Torres, desta Folha.
Disse Peñalosa, graduado na Universidade de Duke (EUA), com mestrado em métodos de gestão pela Universidade de Paris: "Se o Estado não tem autoridade moral, não teremos -os governantes- o respaldo dos cidadãos para que se baixe a criminalidade. Isso vale para aqui e para o Brasil. Quando não há legitimidade, se passam coisas graves. Não se obedecem às leis, não se cumprem as normas".
Bingo. O Estado brasileiro perdeu a autoridade moral já faz algum tempo. Não saberia em que momento a perdeu, mas é um fato. Como é visível a olho nu que, no Brasil, "não se obedecem às leis, não se cumprem as normas", das mais elementares às mais vitais. O diabo é que não está à vista nenhuma ação para devolver ao Estado a autoridade moral perdida. Na prática, ele foi privatizado para uma classe política que, com uma ou outra exceção, trabalha para ela própria. Não estaria na hora de devolver o Estado a seu dono, o cidadão brasileiro?

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