Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 25, 2007

Suely Caldas PIB bom, investimento ruim

Ajustado o foco da lente, a imagem ficou mais nítida e a foto mostrou um Brasil mais real. O produto interno bruto (PIB) engordou 10,9 %, indicadores econômicos melhoraram, entre eles a dívida pública, mas cresceu a preocupação com o futuro. O governo tratou de comemorar. Como numa corrida de obstáculos, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, atropelou a Coréia e a Itália e se apressou em pôr o Brasil na oitava posição entre as nações mais ricas do mundo. Tudo bem, é bom saber que o Brasil progrediu - menos que outros países similares e menos do que poderia, mas progrediu. O que inquieta é não ver o governo preocupado com o futuro, em buscar superar o que de negativo saiu dos números da revisão do PIB feita pelo IBGE.

A nova foto do País mostra uma economia mais robusta e uma taxa de investimento raquítica, piorada no governo Lula, com queda de 17% do PIB em 2001 para 16,3% em 2005. São números que provam que o crescimento se deu pela expansão do crédito e do consumo das famílias, e não por força de novos investimentos - o verdadeiro motor da economia, que gera riqueza, renda, emprego e garante o crescimento sustentado, de longo prazo. Na verdade, o instantâneo do País na foto do IBGE é um reflexo das ações (e da falta delas) do governo Lula no primeiro mandato: as boas, com resultados positivos; as más, com efeitos desastrosos; e as decorrentes da sorte de ter governado em período de um quadro externo altamente favorável e herdado de FHC uma economia com inflação controlada, câmbio flutuante, bancos saneados e estatais deficitárias privatizadas.

As boas ações - 1) A política monetária do Banco Central consolidou o controle da inflação, trazendo a taxa para 3,1%, abaixo da meta; 2) apesar da má qualidade dos gastos do governo, o compromisso de superávit fiscal foi respeitado; 3) o Bolsa-Família distribuiu renda e melhorou a vida dos pobres; 4) a expansão do crédito, inclusive o consignado, ajudou o crescimento do consumo e da economia; 5) a dívida pública líquida atrelada ao dólar desapareceu, dando ao País solidez para enfrentar crises externas.

As más - 1) O ambiente para novos negócios é inseguro; 2) pioraram as condições e as regras para investimentos em infra-estrutura; 3) o governo vacila, mostra-se incapaz e indeciso em ações vitais para gerar crescimento; 4) as agências reguladoras foram enfraquecidas, politizadas, e a interferência do governo se fez presente, afugentando investidores; 5) atos de corrupção e tolerância com corruptos alimentam um quadro de crise política latente e prejudicam decisões de investimentos; 6) com exceção de casos raros, os Ministérios setoriais são inoperantes, mal administrados e nulos em ações dirigidas ao crescimento econômico.

As de sorte - 1) Quatro anos de economia externa em expansão acelerada, que Lula pouco soube aproveitar; 2) o Plano Real consolidado e corrigidos os seus efeitos colaterais (como a crise bancária) na gestão FHC; 3) colheu os frutos plantados pelo governo anterior de privatizações bem-sucedidas que geraram ricos investimentos e impulsionaram o crescimento econômico, como no setor de telecomunicações.

O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) é insuficiente para destravar a economia e o investimento. Tanto que ele já deveria estar apresentando resultados positivos, se tivesse despertado o entusiasmo dos empresários e investidores. Mas, não. Se ele não vier acompanhado de regras de regulação estáveis e aplicadas por agências autônomas e afastadas do risco político do toma-lá-dá-cá, nem com a aprovação do Congresso o PAC decolará com a força necessária para garantir o crescimento econômico contínuo e sustentado. Vai acabar como as Parcerias Público-Privadas (PPPs), lançadas com empolgação e esquecidas com frustração.

Há consenso de que o crescimento da economia só será contínuo se o Brasil alcançar uma taxa de investimento de 25% do PIB. Em 2005, essa taxa era de 16,3% e o ministro Mantega é o primeiro a reconhecer que ela não chegará nem a 20% ao final do governo Lula. Os três parceiros do Brasil na sigla BRICs têm taxas bem mais elevadas - a China, 40,6%; a Índia, 27,4%; e a Rússia, 20,8%. Por aqui, nosso PIB melhorou, o investimento piorou e o futuro é incerto.

*Suely Caldas é jornalista. E-mail: sucaldas@terra.com.br

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