O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, estranha que economistas de alto nível vejam características de câmbio fixo na trajetória do dólar em reais.
Ele afirmou ontem a esta coluna que a economia está mais previsível porque a inflação está dentro da meta. A política de câmbio, lembrou ele, é a mesma que foi enunciada no final de 2004. Tem dois objetivos: recompor reservas e diminuir a exposição cambial da dívida doméstica. Esse segundo objetivo já foi alcançado. Segue a acumulação de reservas, que tem como conseqüência a melhora da percepção sobre os fundamentos da economia e a melhora dos indicadores de risco. Meirelles observa ainda que, de 2004 até agora, a cotação do dólar escorregou (de R$ 2,70 para R$ 2,06) e diante desses resultados não se pode dizer que no Brasil haja câmbio fixo. “Nos países que adotam o câmbio flutuante, a trajetória das cotações é rigorosamente imprevisível.”
Ele concorda que a recomposição das reservas ajuda na obtenção do grau de investimento para a dívida brasileira. Mas insiste em que esse não é o objetivo da política cambial. “A acumulação das reservas deve continuar mesmo depois de obtido o grau de investimento porque o que interessa é reduzir o mais possível o custo do financiamento no País.”
Quando vier esse reconhecimento por parte das agências de classificação de risco, a principal impacto, diz Meirelles, será o forte aumento da procura por títulos brasileiros (tanto públicos como privados) e a imediata redução dos juros. Mas ele preferiu não responder à pergunta sobre se o grau de investimento derrubaria também os juros básicos (Selic) definidos pelo Copom.
Ele repeliu as reiteradas acusações do senador petista Aloizio Mercadante de que o Banco Central mantém uma “meta oculta” de inflação. Mercadante parte do fato de que, no ano passado, a inflação foi de 3,1%, enquanto a meta tinha sido fixada em 4,5%. Para este ano, a meta continua sendo de 4,5%, mas a inflação projetada pelo mercado é de 3,7%. O senador sustenta que o Banco Central trabalha com meta falsa só para manter os juros mais altos.
Meirelles lembra que já rebateu essa afirmação no Conselho de Assuntos Econômicos do Senado. “Não há registro no mundo de que a execução de política de metas de inflação tenha conseguido manter a inflação estritamente dentro da meta. Isso é como um eletrocardiograma. Linha reta só acontece quando o sujeito morreu. Numa economia viva, muito raramente ela está na mosca. Por isso é que existem os intervalos de tolerância, cujo objetivo é acomodar choques e oscilações normais dos preços. Na execução da política monetária, o Banco Central mira o centro da meta, mas, ocasionalmente, a inflação pode ficar abaixo.”
Meirelles não quis avançar que mudanças haveria na política de juros (política monetária) se os números das Contas Nacionais de 2006 que o IBGE hoje divulga confirmarem um quadro muito mais favorável da economia do que o que vier descrito no Relatório de Inflação do primeiro trimestre, também a ser divulgado hoje. “Qualquer comentário sobre isso seria prematuro.”