Demétrio Magnolli, sociólogo da USP
Para o sociólogo Demétrio Magnolli, da USP, a declaração da ministra Matilde Ribeiro foi uma clara incitação ao racismo. Na opinião dele, ela deveria ser destituída do cargo.
Como o senhor viu a declaração da ministra sobre racismo de negros contra brancos?
Em primeiro lugar pensei que vivemos uma época sombria. Afinal, o que pensar quando uma pessoa dá uma declaração dessa no cargo de ministra e continua ministra? Acho impressionante que ela ainda continue no cargo.
E quanto à declaração de que o racismo se justifica em função do que os negros sofreram no passado?
É uma declaração essencialmente racista. Uma incitação ao ódio racial. Atribui aos brancos, como raça, os açoites que os negros, como raça, sofreram no passado. Interpreta a história como um conflito de raças. E é nesse sentido mais profundo, de visão do mundo e da história, que a declaração dela é racista. Não se trata de uma visão circunstancial, ou conjuntural.
Mas ela disse que não apóia.
Apesar da saudação à bandeira, dizendo que não incita, ela está criando uma pretensa racionalidade política para uma expressão de racismo. Eu acho que isso é coerente com o conjunto da política que ela conduz - que é a política de dividir os brasileiros segundo a cor da pele, com a finalidade de fabricar a raça como conceito de identidade oficial no Brasil.
E a questão da exclusão social dos negros, detectada em diferentes pesquisas realizadas no País?
Está errado. O que existe é uma exclusão social e econômica dos pobres - entre os quais os de pele escura e também os de pele clara. É falso definir como problema racial o que é na verdade um problema social e econômico. Trata-se de um expediente esperto de um governo que não quer enfrentar o problema verdadeiro, das extremas desigualdades sociais e econômicas.
O senhor acha que a conscientização dos negros sobre a exclusão pode elevar o grau de racismo?
Isso também é falso. Aplicada de maneira geral, a idéia de que as pessoas se tornam mais racistas à medida que sua consciência aumenta, é uma justificativa para a existência da Klu Klux Kan. Na realidade ocorre o contrário: à medida que a consciência aumenta, as pessoas percebem que os mecanismos de desigualdade não são mecanismos raciais, mas sociais. A questão da raça pode aparecer como cobertura, justificativa, fantasia.