Problema recorrente pede análise recorrente. Esta coluna já tratou da questão cambial, que é a inexorável tendência à valorização do real (queda do dólar) no câmbio interno. Mas as reclamações da indústria se repetem e, com elas, a condenação da política cambial. Não dá para evitar a volta ao tema.
Quinta-feira, os dirigentes do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) não pouparam sua artilharia contra o governo Lula. “O câmbio está expondo o Brasil a um desequilíbrio grave”, advertiu Josué Gomes da Silva, presidente do Iedi.
Nas duas últimas semanas, o dólar seguiu deslizando rampa abaixo. No dia 5, era negociado em torno dos R$ 2,13. Sexta-feira, fechou nos R$ 2,06. Alguns setores se adaptaram. Outros, como a indústria têxtil e a de calçados, sentem o baque porque perdem competitividade todos os dias.
O Iedi e outras entidades empresariais limitam-se a reclamar. Até agora não surgiu nenhuma proposta aproveitável para reverter a situação. A Fiesp, por exemplo, encaminhou em 2005 um projeto de reforma do câmbio. Quase todos os pleitos foram atendidos, mas nada foi capaz de mudar a trajetória do dólar.
Os mesmos que reclamam do câmbio ainda fazem quatro ou cinco propostas, nenhuma capaz de virar o jogo. Confira.
A primeira é a de que os juros devem cair drasticamente. Essa sugestão contém pelo menos dois problemas. Primeiro, exigiria a rejeição da política de metas de inflação e sua substituição por um esquema que ninguém diz qual seria. Juros primários no Brasil sobem ou caem somente para encurralar a inflação na meta e não para fazer política cambial. Segundo, o dólar não está sendo derrubado pelos juros altos, mas pela exuberância das exportações, pelos investimentos diretos e pelas transferências. Os juros já caíram 7 pontos porcentuais. Se tivessem a ver com isso, já teriam causado algum efeito.
A segunda proposta é a de que o Banco Central compre mais dólares. Isso é como ligar o ar-condicionado para reduzir o aquecimento global. Quanto maiores as reservas, mais atraente ficará a economia brasileira e mais chegarão os capitais (de longo prazo, como os de George Soros) para aproveitar as oportunidades.
A terceira proposta não é uma proposta. É mais uma dessas afirmações que não levam a lugar nenhum: “Está tudo errado; é preciso mudar tudo.” Ninguém fica sabendo se é preciso voltar ao câmbio fixo, o que fazer com o sistema de metas de inflação, que fim dar ao superávit primário.
Algumas vezes, esses mesmos dirigentes parecem encorajar a instituição de um imposto de exportação (confisco) para derrubar as exportações. Mas, à parte algumas idéias isoladas, nunca avançam nisso. E, como entendem que o aumento das compras externas também asfixia a indústria, evitam sugerir maior abertura às importações.
Enfim, até mesmo o ministro Luiz Furlan, crítico da política cambial de primeira hora, desistiu de esperar mudanças. Ninguém se iluda: o dólar continuará a deslizar em direção aos R$ 2.
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