O Federal Reserve (Fed, o banco central americano), na sua reunião de quarta-feira, manteve o cenário de uma economia crescendo, este ano, no ritmo atual, algo aí próximo dos 3%, e uma inflação que preocupa. Exige vigilância, mas não assusta ainda. O risco, diz o comunicado do Fed, é de a inflação 'não se moderar conforme o esperado'. O Fed, como sempre, deixa aberta a possibilidade de alteração dos juros, porém, acrescenta, tudo vai depender da evolução da inflação e do crescimento econômico. Mas a leitura do mercado foi otimista.
O juro tende mais a recuar do que a subir, dizem os analistas que se debruçaram com lentes de aumento para decifrar o comunicado, menos tortuoso, admita-se, do que na época de Alan Greenspan. Não há sinais de alta, mesmo porque o crescimento econômico vacila e, se alguma conclusão poderia ser tomada, é que a inclinação é mais para baixa. Tudo porém vai depender dos próximos dados, mesmo porque os indicadores atuais 'são desiguais'. A inflação deu ligeiro sinal de alta, mas mantém-se nos limites previstos pelo Fed e os outros indicadores econômicos com sinais tanto de evolução como de estagnação. Só há uma conclusão, o Fed manteve o juro básico em 5,25% e, a não se alterar o quadro, deverá seguir com essa taxa até meados do ano.
MERCADO IMOBILIÁRIO
Para esta coluna, um fato importante pouco destacado é que o BC americano tem uma leitura menos pessimista para o mercado imobiliário, fator-chave no crescimento econômico americano. O Fed não vê ainda esse mercado como séria ameaça ao crescimento. O ajuste nos preços e na construção de imóveis 'está em andamento', não dá para tirar qualquer conclusão; os últimos dados são contraditórios (há mais construção e menos contratação de obras), mas 'a economia vai continuar se expandindo num ritmo moderado nos próximos trimestres'. Vai, volta, e a conclusão é sempre a mesma: o crescimento deve manter uma taxa moderada (sinônimo de menor) e risco de uma inflação cujo controle é a meta principal do banco.
E PARA NÓS?
Para o Brasil, pouco muda. Muitos leitores me perguntam se não exagerei na importância dada aos EUA na conjuntura mundial. Não, pois eles representam 17% das importações mundiais. Além disso, tem um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 13,3 trilhões, num PIB mundial estimado em pouco mais de US$ 40 bilhões. Os sinais de que o juro não sobe animou a Bolsa. Hoje, um fator importante é a capitalização das empresas, que cada vez mais se abrem para um mercado acionário em expansão. Houve tempo em que uma alteração de 0,25 ponto, digamos, afetava as então indispensáveis captações do Brasil no mercado financeiro internacional. Com reservas acima de R$ 100 bilhões e a dívida externa encolhendo, as decisões do Fed têm menor peso para o Brasil, que já emite títulos em real. O mais importante para nós é que a economia americana continue crescendo, não arraste as outras para uma retração que afetará o comércio exterior.
VAMOS BEM, ESTÃO ACERTANDO
Os indicadores econômicos brasileiros melhoraram neste trimestre. Brasília está acertando em muitas áreas, ao contrário do que ocorreu no primeiro mandato, embora a balança comercial vacile. Os investimentos externos tendem a aumentar - e aí os EUA têm grande peso -, embora não como alguns economistas andam apregoando, em mais de US$ 30 bilhões. Para atender talvez aos anseios do governo, alteram até os critérios do Banco Central, 'esquecendo'o que sai, ou seja, do investimento líquido. Este aponta para US$ 19 bilhões, como o próprio BC, distante de bajulações, admite. Podem passar até bem de US$ 20 bilhões, mas dificilmente chegaria a mais de US$ 30 bilhões, como na época das privatizações.
Decididamente, estamos vivendo numa conjuntura econômica bem melhor, aproveitando, embora ainda timidamente, as oportunidades de grande liquidez e interesse pelos países emergentes, abertas no exterior. E só não melhoramos mais porque os dois fatores básicos do crescimento econômico continuam sem solução: taxa de juros elevada e um real valorizado. Quando o governo decidir atacar esses dois componentes, em busca de uma solução - difícil, reconhecemos, mas necessária -, poderemos obter nos próximos trimestres um resultado ainda mais favorável. Há espaço aberto para o Brasil no comércio mundial, não poderemos continuar confiando apenas no mercado interno, é preciso agora uma nova política consistente, sem alterações, que atraia o investidor externo. Aí, fecharíamos um novo ciclo de crescimento, que agora começa a dar sinais. Não há duvida de que o cenário mudou para melhor, mas pode e precisa melhorar mais. E isso passa por investimentos, criação de empregos, maior demanda interna. Os resultados atuais continuam decorrendo da excelente performance agrícola, da irrigação de recursos no campo, agora com o álcool, com o bem-vindo capital externo. A agricultura, o agronegócio, associada ao afinal tão demorado estímulo à construção civil, grande geradora de empregos, estão impulsionando a economia nacional.
Resumindo, a decisão do Fed de não mexer no juro não afetou o Brasil, pois dependemos menos do mercado financeiro internacional, embora haja muitos recursos voláteis entrando e, internamente, estamos indo melhor que nos últimos quatro anos. A coluna, que se tem mantido numa vigilância crítica construtiva, baseando-se no julgamento dos economistas mais respeitados, reconhece que, agora, Brasília está num caminho há muito tempo esperado. É o início do início, um início que demorou quatro anos, o que nos custou um atraso evitável, mas, parece,. não se repetirá em 2007. Oxalá siga assim, pois vamos precisar da economia interna para enfrentar surpresas com crescimento da mundial.
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