Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 28, 2007

Merval Pereira - Procurando caminhos




O Globo
28/3/2007

Não é por acaso que os três partidos de oposição ao governo - PSDB, PFL e PPS - estão em processo de mudança, cada qual buscando seu caminho para se apresentar ao eleitorado como uma verdadeira alternativa ao PT depois de Lula. Os três partidos partem do princípio de que devem se aproximar dos eleitores, especialmente da classe média, com questões que afetam seu dia-a-dia, como o meio ambiente, os altos impostos, o desemprego, o apagão aéreo e a insegurança pública. Ao mesmo tempo que o PFL procura se diferenciar do PSDB com uma oposição mais radical, o PPS se aproxima mais dos tucanos, havendo até um espaço para uma eventual unificação das duas siglas.

Todos esses movimentos já preexistiam, mas foram apressados pela predominância, até aqui incontrastável, do lulismo, que além de ter ultrapassado com surpreendente tranqüilidade a crise do mensalão, hoje se impõe como a grande força política do país, isolando a oposição no Congresso.

Nada menos que 47 deputados abandonaram até agora as legendas oposicionistas para se unir à base do governo, que reúne nada menos que 11 partidos, da esquerda mais radical, representada pelo PCdoB, até a direita mais explícita, como o PP e o PR.

Aparentemente, a única chance de a oposição aspirar a uma mudança de quadro político reside no fato de que Lula não poderia disputar um terceiro mandato em 2010.

Mantidas as regras atuais, pode acontecer na sucessão presidencial o que o ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal Antonio Palocci definiu como uma disputa entre o governo com um programa, mas sem candidato, contra a oposição sem programa, mas com candidato.

Fora o fato de que um governo de tão largo espectro não pode ter um programa definido, Palocci tem razão quando chama a atenção de que a oposição tem bons nomes, mas não tem uma base programática em que se apoiar.

A estabilidade fiscal, o controle da inflação e o crescimento econômico transformaram-se em bandeiras do governo Lula por culpa exclusiva dos tucanos, que não assumiram a defesa das reformas estruturais do Estado que começaram a realizar no governo de Fernando Henrique, especialmente as privatizações, como ficou demonstrado na campanha presidencial do ano passado.

É atrás de um programa que pareça ao eleitorado uma alternativa válida, diante da falta de Lula na disputa, que a oposição está tentando encontrar seus caminhos.

A mudança mais radical foi a do PFL, que passa a se chamar Democratas, uma mudança que já se desenhava desde uma reunião da Internacional Democrática de Centro (IDC) realizada no Rio, em 2005. Eles pretendem apresentar uma plataforma verdadeiramente liberal como alternativa para o desenvolvimento do país.

A IDC, presidida pelo ex-presidente de governo espanhol José María Aznar, se contrapõe à Internacional Socialista, que reúne os partidos de esquerda e social-democratas no mundo, entre eles o brasileiro PDT. PSDB e PT são observadores, por enquanto, mas fazem parte do mesmo espectro político.

O que os Democratas sugerem é que estaria na hora de tentar uma experiência liberal, com uma reforma do pacto federativo para diminuir o tamanho do Estado para conseguir uma redução de impostos. O exemplo do governo Aznar, quando a Espanha teve um surto de desenvolvimento e geração de empregos, é usado para explicar os objetivos do novo partido.

Ao contrário da tendência regional para a esquerda, os Democratas acreditam que há um espaço para os liberais na política brasileira, pois os países mais adiantados, neste início do século XXI, estariam tendendo, politicamente, ao conservadorismo.

A tentativa é fazer uma carreira solo, afastando-se do PSDB para ganhar identidade própria. Mas os laços que unem os interesses regionais dos dois partidos continuam firmes. Agora mesmo, um dos principais apoios do prefeito Gilberto Kassab em São Paulo é o governador José Serra, que tem ainda no presidente da Associação Comercial, Afif Domingos, um secretário importante, a quem designou um programa de desburocratização do Estado.

A votação surpreendente que Afif Domingos recebeu na eleição para o Senado - quase derrota o super-favorito Eduardo Suplicy - dá aos Democratas a certeza de que trabalhar as questões do dia-a-dia da população, como a campanha contra os impostos, é um caminho para identificar o partido com a defesa da cidadania.

Já o PSDB prepara uma ampla pesquisa nacional para saber o que a população está querendo, em relação à oposição e ao governo Lula. A partir dessas pesquisas e de seminários, no final do ano, o partido aprovará um novo programa, que será a base das campanhas municipal, no ano que vem, e presidencial em 2010.

O partido tem os dois presidenciáveis em tese favoritos para a disputa presidencial de 2010, os governadores José Serra, de São Paulo, e Aécio Neves, de Minas Gerais, e precisaria focar sua atuação política para voltar a ser uma alternativa a nível federal como já é a nível estadual.

O PPS, por seu turno, já vem trabalhando há muito tempo com a idéia de que é preciso unir o que seu presidente, Roberto Freire, chama de "as forças de esquerda democrática", que podem estar sub-representadas em partidos como o PSB, o PDT e o PMDB, todos da base aliada do governo.

Nomes como os dos senadores Jarbas Vasconcellos, do PMDB; e Jefferson Perez e Cristovam Buarque, do PDT; e dos deputados Miro Teixeira, do PDT; e Fernando Gabeira, do PV; seriam políticos a serem unidos em torno de idéias comuns.

A formação de um novo partido começa a ser um tema palpável, diante do rolo compressor governista. Ou a união em torno do PSDB, desde que ele se mostre uma alternativa política moderna ao lulismo.

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