Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 31, 2007

Anna Nicole Smith: a morte foi acidental

Nove remédios e um funeral

Esclarecida a causa da morte da ex-coelhinha
Anna Nicole: overdose acidental. Falta identificar
o motivo da obsessão dos americanos pelo caso

Kevin Winter/Getty Images


Aconteceu de novo: na segunda-feira um médico legista da Flórida convocou entrevista coletiva para divulgar o resultado da autópsia de Anna Nicole Smith – overdose acidental de remédios – e os Estados Unidos pararam para ouvir, especular, discutir. Ex-dançarina topless, ex-coelhinha da Playboy, ex-protagonista de reality show, garota-propaganda de produto para emagrecer, casada e rapidamente viúva de um bilionário nonagenário, não foi pelo currículo nem pela estatura moral que, na morte mais do que em vida, Anna Nicole se tornou uma obsessão americana. A atração vem da vida repleta de homens, drogas e escândalos, encerrada aos 39 anos com uma certeza unânime – só poderia terminar assim – e uma dúvida constrangedora – quem é, afinal, o pai de sua filhinha de 7 meses. Morta em 8 de fevereiro, duas semanas depois Anna Nicole era o assunto mais comentado em talk-shows de rádio e televisão dos Estados Unidos: 22% do tempo total. Os canais de notícias e de celebridades passaram dias dedicando tempo integral à cobertura das circunstâncias bizarras de sua morte e das brigas entre marido, namorado e mãe sobre onde seria enterrada e quem ficaria com a guarda da criança, Dannielynn. O enterro nas Bahamas, quase um mês depois, foi exibido em tempo real, da chegada do caixão – enfeitado com plumas e paetês – ao aeroporto à cerimônia final no cemitério, que ato contínuo virou ponto turístico, com tours organizados por agências. A divulgação da autópsia, em seus mórbidos detalhes, desencadeou a segunda onda do frenesi coletivo.

A causa da morte de Anna Nicole foi ingestão excessiva de um sedativo fora de moda, o hidrato de cloral. O medicamento foi prescrito pela psiquiatra Khristine Eroshevich no fim do ano passado porque "Anna tinha pesadelos, alucinações, não conseguia dormir" e não se dava bem com sedativos modernos. Também foram encontrados em seu organismo resíduos de pelo menos outros oito medicamentos, mas todos em "doses terapêuticas" – ao contrário do hidrato de cloral, cuja dose recomendada é de uma a duas colheres de chá ao dormir, mas que Anna costumava tomar direto do frasco. Tudo misturado, ela dormiu, entrou em coma, teve insuficiência respiratória e morreu.

Hans Deryk/Reuters
AP
Os três candidatos: Stern, o ex-companheiro, Virgie, a mãe, e Birkhead,
o ex-namorado, disputam a guarda de Dannielynn

A autópsia também constatou traços de metadona, substância usada no tratamento de viciados em heroína, mas sua ingestão ocorreu "vários dias antes da morte". Os braços apresentavam "sinais de agulha". Anna, que media 1,80 metro, pesava 81 quilos quando morreu. Estava "bem nutrida", tinha unhas "compridas e limpas" e "múltiplas extensões loiras" no cabelo. Apresentava um abscesso infeccionado na nádega, resultado de injeção de "produtos antienvelhecimento". "Deve ter tomado hidrato de cloral demais para tentar aliviar sintomas causados pela infecção", diz o relatório do legista. "Se tivesse ido para um hospital, não teria morrido." Já o inquérito policial da morte informa que no dia 5 de fevereiro Anna viajou das Bahamas, onde morava havia um ano, para a Flórida com a intenção de comprar um iate novo. Estava "animada", depois de meses de profunda depressão devido à morte do filho Daniel, também vítima de overdose de medicamentos e metadona, dentro do quarto de hospital onde, três dias antes, ela havia dado à luz. No avião, começou a reclamar de dor na nádega esquerda. Chegou ao hotel com febre, "tremendo e sentindo frio". Howard Stern, o advogado com quem havia se casado não oficialmente, o segurança Maurice Brighthaupt e a mulher dele, Tasma, que é enfermeira, iam chamar uma ambulância, mas ela recusou. Ficou três dias recolhida no quarto, tomando remédios e mascando chicletes de nicotina, até o começo de tarde em que foram chamá-la e a encontraram "com o rosto caído no peito, de boca aberta, sem respirar". A investigação mostrou que três médicos, pelo menos, forneciam receitas de medicamentos controlados a Anna.

Esclarecida a causa da morte, falta resolver a encrenca da paternidade de Dannielynn, exacerbada pela sua condição de potencial herdeira de uma parte dos 500 milhões de dólares deixados pelo velhinho milionário de quem Anna enviuvou. A guarda é disputada pelos dois candidatos mais fortes (há outros) a pai – o próprio Stern, que o é na certidão de nascimento, e o fotógrafo Larry Birkhead, cujo caso com Anna coincide com a época da concepção – e pela mãe de Anna, Virgie Arthur, a quem ela odiava. Aguarda-se para qualquer momento o resultado do teste de DNA – e, com ele, a terceira onda de delírio público em torno da loura de seios gigantescos que não sai mais da cabeça – e das TVs – dos americanos.

A LISTA DE ANNA

A autópsia encontrou no corpo de Anna Nicole traços dos seguintes remédios e substâncias:

hidrato de cloral (sedativo), Klonopin (ansiolítico), Valium (ansiolítico), Ativan (ansiolítico), Benadryl (anti-histamínico), Soma (relaxante muscular), Robaxin (relaxante muscular e sedativo), Topamax (contra enxaqueca) e Ciprofloxacina (antibiótico)

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