Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 31, 2007

Atentado contra estudantes africanos em Brasília

Lambada racista

Atentado na UnB pode se resumir
a uma simples briga de vizinhos


Alexandre Oltramari

Fotos Marcelo Ferreira/CB
Alunas africanas que dormiam num quarto atingido: susto na madrugada


Na semana passada, vândalos atearam fogo às portas de três apartamentos ocupados por estudantes africanos no alojamento da Universidade de Brasília, a UnB. Ninguém ficou ferido. O incêndio criminoso, dada a origem das vítimas, tem sido tratado como um atentado racista. "É um incidente que nos enche de vergonha", disse o ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores. O Ministério Público pediu à polícia que investigasse os indícios de que o crime tenha sido um ato racista. Uma comitiva parlamentar também foi à universidade exigir providências. "São nazifascistas que colocaram fogo justamente nos quartos dos setores onde os negros africanos estavam hospedados", afirmou o deputado Doutor Rosinha (PT-PR). Estudantes fizeram manifestações contra o ato e, sem nenhum nexo com o ocorrido, aproveitaram para exigir mais verbas para a universidade. Pressionada, a UnB triplicou a segurança em suas dependências e transferiu para hotéis de Brasília todos os 22 estudantes africanos que vivem no alojamento. O reitor sugeriu que, a partir de agora, a data do incêndio seja lembrada como o dia da luta pela igualdade racial.

A indignação por um ato de conotação racista merece todo o repúdio e indignação. Mas, ao que tudo indica, o crime nada tem a ver com a cor da pele das vítimas. Há indícios de que por trás do incidente esteja apenas uma banal contenda entre vizinhos. Um ano atrás, ao retornar de madrugada para o seu alojamento na UnB, o universitário africano Adilson Fernandes Dias decidiu ouvir zouk, um ritmo musical caribenho, semelhante à lambada, muito popular nos países africanos de língua portuguesa. Um estudante brasileiro, Roosevelt dos Reis, reclamou do volume do som. Os dois brigaram e o brasileiro levou a pior. Ambos foram suspensos pela universidade, mas o clima ficou pesado no alojamento, que abriga 377 universitários brasileiros e 23 estrangeiros. Paredes foram pichadas com insultos generalizados. Um dos dormitórios incendiados era ocupado exatamente por Adilson Fernandes Dias, o africano que trocou agressões com Roosevelt dos Reis.

Estudantes da UnB protestam: racismo ou falta de dinheiro?

Apesar do barulho que se fez, nem as vítimas do ato de vandalismo acreditam que o motivo do incêndio seja racismo. Dos nove apartamentos ocupados por africanos, três foram atingidos. "Foi um conflito individual que se alastrou", diz o estudante africano Nivaldo Domingos Gomes, que pulou de uma altura de 3 metros para escapar das labaredas. "Quiseram atingir um ou dois de nós. Não existe uma ameaça contra negros aqui", conta Lenine da Silva, nascido na Guiné e aluno de ciências sociais. Há, de fato, um desconforto entre alguns estudantes brasileiros em relação à presença de estrangeiros no alojamento universitário. Acham que eles ocupam o lugar de brasileiros carentes. É uma evidência de que a discriminação no Brasil é motivada mais por razões econômicas.

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