O Estado de S. Paulo |
27/3/2007 |
Uma das surpresas reveladas pela atualização das Contas Nacionais do IBGE foi o salto da participação do setor de serviços no PIB, que saiu dos 56,3% e está nos 66,7%. Enquanto isso, a indústria perdeu algumas fatias da economia: alcançava antes 36,1% do PIB e passou a 27,7%. Nos tempos coloniais e mesmo na Primeira República, apenas a propriedade fundiária e a produção daí obtida eram valorizadas. A manufatura era então considerada atividade menor, a que se dedicavam burgueses e arrivistas. Apenas alguns serviços, embora nem sempre satisfatoriamente remunerados, tinham boa reputação, como o ensino, tratamento de saúde e comunicações.De uns tempos para cá, os serviços continuaram pouco notados, mas a indústria passou a ser fortemente valorizada. Governadores e prefeitos, por exemplo, continuam em acirrada guerra fiscal para atrair fábricas. Oferecem generosos subsídios e infra-estrutura (estradas, terraplenagem, serviços de água e esgoto, etc.). E tudo fazem para facilitar o seu desenvolvimento.Em contrapartida, a área de serviços carrega e desperta enormes preconceitos e até aversões. Ainda hoje há gente que a vê como uma espécie de setor chupança, que não produz e só suga renda da produção. Os serviços bancários e financeiros muito freqüentemente são entendidos como exercício de agiotagem. De tempos em tempos, o noticiário nos dá conta de que prefeitos e câmaras municipais agem para repelir investimentos de hipermercados, porque temem a dizimação do pequeno comércio. Mas o que seria do setor produtivo propriamente dito se não houvesse transporte, armazenagem, intermediação financeira e comércio? Mais do que isso, é incomensurável a contribuição para o aumento da produtividade e da própria produção que vem sendo proporcionada pela expansão dos serviços. Não dá mais para conceber sistema produtivo moderno sem a informática e sem a modernização das comunicações. O telefone celular aumentou muito a eficiência e a capacidade de trabalho de uma infinidade de profissões, como as de médico, advogado, encanador, eletricista, mecânico e vendedor. Os profissionais não precisam mais voltar às suas bases de trabalho para saber o novo endereço em que devem atuar. E o turismo é cada vez mais indispensável fonte de renda no mundo inteiro.Se a Volkswagen decide demitir 400 funcionários, há mobilização sindical, as TVs e os jornais acompanham e repercutem o caso. Mas, se uma rede de lojas fecha suas portas e demite o mesmo número de funcionários, ninguém fica sabendo. O setor de serviços está em rápida e inexorável expansão no mundo inteiro e ganha importância cada vez maior. O brasileiro deveria olhar a fatia do leão com mais cuidado.
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 27, 2007
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