O Estado de S. Paulo |
27/3/2007 |
A ordem do ministro da Defesa, Waldir Pires, determinando à Infraero abertura de sindicância para apurar as causas dos recentes atrasos de vôos no aeroporto de Cumbica com orientação para punição dos responsáveis seria apenas tardia se não fosse também falha. Equivale às ordens por “apurações rigorosas” e “punições doa a quem doer” sempre presentes como reação a denúncias e de ineficácia largamente comprovada. Ameaçado de perder o cargo, o ministro parece ter acordado de sua letargia de seis meses de crise no setor aéreo, durante os quais ele e o governo inteiro tiveram tempo mais do que suficiente para apurar os acontecimentos e pelo menos fazer algo além de convocar reuniões e produzir desculpas esfarrapadas. Nada disso foi feito. As autoridades nem mesmo tiveram a gentileza de informar ao público o que se passa: se é greve, operação-padrão, incompetência, sabotagem, fadiga de material, má gestão, desdém ou todas as alternativas. Seis meses transcorreram desde o acidente que matou 154 pessoas e marcou o início de uma jornada infernal de atrasos e cancelamentos de vôos, sempre justificados por diferentes, e não raro fúteis, motivos. Agora, no caso de Cumbica, fala-se de falha de operação do instrumento de auxílio nos pousos e decolagens, mas nesses seis meses já se falou de tudo: doença de funcionários, falta de controladores, material obsoleto, enchente de pista em Congonhas, pane de equipamento em Curitiba, curto-circuito no sistema eletrônico de informações em Brasília e por aí vai. A cada desculpa corresponde a promessa de providências e normalização dos vôos. Passam-se alguns dias de relativa normalidade, o caos volta a imperar e repete-se a rotina de justificativas e promessas vãs. O que chamamos de normalidade é bastante relativa porque a comparação é feita com os picos de confusão, nunca com a realidade dos aeroportos antes do 29 de setembro de 2006. Vivia-se a mística da excelência do sistema aéreo brasileiro. Hoje vive-se um cotidiano de conformidade com um serviço caótico, como vários outros cuja ineficácia não apenas não causa estranheza como está perfeitamente incorporada à vida do País. As filas do SUS, por exemplo. Até o atendimento das companhias aéreas mudou. Em terra e no ar percebe-se uma nítida acomodação ao novo padrão de qualidade zero. Hoje é tão difícil viajar de avião como já foi conseguir comprar uma linha telefônica e, mais remotamente, ter água encanada e luz elétrica em casa no Rio de Janeiro dos anos 60. O desconforto rendeu marchinha de carnaval (“Rio cidade que me seduz, de dia falta água, de noite falta luz”), mas na época o Brasil era risonho e franco. A sociedade desorganizada e ainda não solapada em sua capacidade de tolerar. A despeito da evolução, a cidadania ainda se deixa inibir. Quem defende uma comissão parlamentar de inquérito é oposicionista ressentido. Quem reclama nos aeroportos é neurótico, deselegante e açodado. Não faz muito, foi esta a avaliação do então ministro das Relações Institucionais e atual titular da pasta da Justiça, Tarso Genro. Só a aceitação pacífica da sociedade a esse tipo de atitude permitiu a repetição da impertinência. Desta vez, o autor foi o substituto de Genro, Walfrido dos Mares Guia. Para ele, não há crise, há, sim, efeitos da Lei de Murphy, segundo a qual o acaso produz infortúnios em série. Dentre os quais se pode incluir o mais extraordinário espetáculo de incompetência e negligência jamais visto neste País. Avesso do avesso O PR esteve preocupado em limpar o terreno de eventuais obstáculos que pudessem prejudicar a recondução de Alfredo Nascimento para o Ministério dos Transportes. Uma das várias complicações do ministro é a declaração do deputado Márcio Junqueira (PFL-RR) dizendo que Nascimento tentou cooptá-lo para o PR em troca da abertura de espaços no ministério. Poderia tanto ter acesso a cargos como a liberação de emendas e indicação de empresas prestadoras de serviço. Para tentar neutralizar o efeito, o PR obteve de Márcio Junqueira uma carta na qual ele nega que Nascimento tenha falado com ele de outro assunto que não a distribuição de poder partidário em Roraima. A carta contraria e-mail assinado por Márcio Junqueira e enviado ao endereço acima às 14h29 do dia 13/03/2007, para contestar informação de que ele só desistiu da troca de partido por ter sido vetado pelo líder do PR na Câmara, Luciano de Castro, seu adversário na política de Roraima. Diz Márcio Junqueira na mensagem: “Não só não aceitei a proposta do senador Alfredo Nascimento, como denunciei a forma de ‘engorda’ do PR. Quem denuncia a cooptação, a esbórnia, a maracutaia é porque não teve ‘pleitos’ atendidos?” Fica a dúvida: o deputado mentiu ao denunciar, e confirmar, “a cooptação, a esbórnia e a maracutaia” ou mentiu na carta de desmentido que o PR apresenta como salvo-conduto moral de seu ministro?
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Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, março 27, 2007
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