PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
29/3/2007 |
"O mundo é mais que os Estados Unidos", lembrou o suíço Klaus Wellershoff, membro do board mundial do UBS, que desfilou números convincentes: "Os EUA responderam por apenas 24% do crescimento mundial de 2006; atrás da Europa, com 28%; e da Ásia, com 31%. Foram os terceiros." O economista está no Brasil por uns dias e me concedeu ontem uma entrevista. Com esse argumento, Wellershoff, responsável global de pesquisa para a gestão de fortunas, quis espantar o temor de uma recessão global devido à queda da economia americana. Ele acha que os Estados Unidos não estão entrando em recessão, mas apenas reduzindo o ritmo de crescimento, o que será mitigado com a queda dos juros, em breve, para 5%. A retomada econômica da Europa fez com que, desde o segundo trimestre do ano passado, o ritmo de crescimento europeu fosse maior que o dos EUA. - A Alemanha voltou a ser o maior exportador mundial - disse. O economista acha que o mundo vai enfrentar problemas e que acumulou tensões e desequilíbrios; mas não há um choque global no horizonte. Por outro lado, admite, com base num relatório lançado pelo banco sobre mudança climática, que o clima cria desafios permanentes e vai mudar nossas vidas. - A energia tem sérios limites. Haverá mudanças grandes nos preços da energia. E isso afetará todos os setores da economia. Ele teme que o mundo não mude rápido o bastante: - É difícil mudar por algo que não está nos afetando agora. Nós podemos reagir tarde ou tarde demais. A energia que Wellershoff usa na casa dele é geotérmica; extraída do calor da terra. Ele contou que 70% das casas suíças usam essa fonte de energia. É a mesma dos vulcões e das fontes termais. Nas previsões do UBS, o uso das energias renováveis vai multiplicar por seis até 2030, mas o economista não parece entusiasmado com o etanol. Em relação à energia nuclear, acha que vai diminuir seu uso, e não aumentar. Isso porque leva muito tempo entre planejar, convencer a sociedade e construir novas usinas. E algumas em uso hoje terão que ser desativadas. Perguntei a ele sobre o custo ambiental do crescimento da China, país que tem um governo ditatorial que toma decisões sem a pressão da sociedade. - Quando comparo com a forte democracia americana, não acho que os EUA estejam sendo mais eficientes que a China em lidar com os limites do meio ambiente. Argumentei que isso era verdade em relação ao governo central, mas os estados, as cidades estão mudando seu comportamento. - Eu vejo os números nacionais. Os americanos consomem 12.000 watts por segundo; os europeus, de 5 mil a 6 mil; a China, 2.000; e a África, de 500 a 600 watts por segundo. A qualidade de vida na Europa e nos Estados Unidos é mais ou menos a mesma, e os americanos consomem o dobro. Apesar disso, mostrou outro tipo de preocupação com os regimes de governo. Wellershoff tinha dito que o mundo passará por um período de governos mais à esquerda. Perguntei se o comportamento de um certo tipo de esquerda na América Latina, como a representada por Hugo Chávez, que rompe contratos, revoga leis, não afastaria os investidores da região. Ele deu uma resposta longa e em etapas que revela o quanto o conhecimento sobre a região se aprofundou na avaliação dos analistas internacionais. - Primeiro, é uma injustiça com a esquerda democrática compará-la a Hugo Chávez. Segundo, há, sim, uma preocupação, na conjuntura atual, pelo fato de que governos autocráticos estão ficando mais fortes; é o caso de Venezuela, Rússia, Irã, China. Eles estão se fortalecendo pelo crescimento ou alta dos preços da energia. O terceiro ponto é que, para nós, não existe exatamente América Latina; existe Brasil, que é diferente da Argentina, que é diferente da Venezuela. O economista tem uma visão positiva em relação ao Brasil. Ela vem da comparação feita com outros países que têm problemas piores - ele citou a Turquia - e da comparação com o próprio passado do Brasil. Acha que o país está bem, e brincou: - Vocês conseguiram até aumentar o PIB em 10% da noite para o dia! Fiz duas perguntas na área dele: Europa. Uma é como o continente vai lidar com a dificuldade de integração dos migrantes muçulmanos. Wellershoff disse que os migrantes, em si, não são problema algum, "querem viver, trabalhar, se divertir". O que pode ser um foco de tensão são os líderes religiosos fundamentalistas se estabelecendo em países como Alemanha e financiados basicamente por muçulmanos fundamentalistas turcos. Quis saber sobre como os europeus vão lidar com o envelhecimento da população e o custo da aposentadoria. - Não é um problema tão grande quanto parece. Na Alemanha, nos últimos anos, houve um aumento de horas trabalhadas sem aumento do salário. As pessoas vão trabalhar mais e ganhar menos quando se aposentarem. Sobre o risco de redução da população européia, disse que já fez a parte dele: - Tive quatro filhos. Quando perguntei qual era seu maior medo, brincou: - Não pergunte a um economista sobre riscos! E passou a falar do déficit da conta corrente americana às armas nucleares do Irã, e a previsão de que, no futuro, as economias da China e da Índia vão superar, em tamanho, a americana: - Isso nunca aconteceu no mundo sem conflito. |
Entrevista:O Estado inteligente
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