A revelação de que os gastos do setor público são maiores do que já se estimava, feita pela atualização do IBGE dos dados que calculam o PIB, vem confirmar o diagnóstico do economista Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, de que o Brasil só não acompanha o ritmo do crescimento mundial devido ao tamanho exagerado do Estado.
O estudo da Mosaico mostra que o grau de abertura da economia brasileira aumentou significativamente nos últimos anos, elevando o coeficiente de correlação entre o crescimento do Brasil e do mundo.
“No entanto, ressalta, o Brasil cresceu pouco nos últimos anos, apesar de o mundo estar atravessando sua melhor fase de crescimento, e caso o mundo desacelere, a médio e longo prazo, esta desaceleração aumentará as dificuldades de o Brasil crescer acima da média mundial, o que pode frustrar a meta de crescimento de 5% embutida no PAC”.
A conclusão é quase óbvia, comenta Marinis: alguma coisa muito fora do lugar domesticamente impediu que o Brasil acompanhasse o ritmo de crescimento mundial. “Na minha opinião, esta coisa fora do lugar chama-se: tamanho exagerado do setor público. E isso revela a necessidade de trabalharmos os fundamentos domésticos, enquanto o mundo nos ajuda”.
Mesmo com os novos números do PIB, que mostraram que a abertura da economia era menor do que se estimava, Alexandre Marinis diz que o grau de abertura aumentou de uma média de 14% na década de 90 (1990-1999) para uma média de 21,1% no período 2000-2005 (com os dados antigos do PIB, este aumento era de 14% para 23,1%).
Outro economista, José Roberto Afonso, chegou à mesma conclusão que Alexandre Marinis sobre o perigo de uma desaceleração econômica mundial afetar mais fortemente a economia brasileira. Ele acha que o ideal é que o desempenho da economia, a médio e longo prazo, “não fique dependendo apenas do comércio internacional, e que esse seja um mercado adicional ou complementar ao mercado interno. O melhor é crescer puxado pelo investimento”.
Analisando os números do PIB, ele diz que, além de a abertura externa não ser tão grande, “o comércio internacional brasileiro não cresce a reboque dos investimentos, como nos países asiáticos, mas à frente nos últimos anos. Sinal de que, caso a economia internacional desacelere, a nossa pode ter problemas mais relevantes desde já”.
A questão do fluxo do comércio internacional, que vem ganhando relevância na economia brasileira a partir de medidas tomadas ainda no segundo governo de Fernando Henrique Cardoso, levou o presidente Lula a ser criticado na semana passada por declarações a favor de uma maior abertura comercial brasileira. Lula lamentou que o Brasil venda a determinados países muito mais do que compra, e citou a Rússia e o México, com os quais temos superávit comercial.
“É muita vantagem para o Brasil. Manter esse equilíbrio de comprar um pouco e vender um pouco é que dá uma certa justeza ao comércio internacional”, disse Lula, para espanto de alguns.
Anteriormente, em 1998, também o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso irritou certos setores, inclusive os petistas, quando disse em Washington, numa visita ao presidente Bill Clinton, que tinha orgulho de ser presidente de um país que comprava mais dos Estados Unidos do que a China.
O fato é que, em princípio, como diz o economista e ex-ministro do Planejamento Reis Velloso, “o que importa é o fluxo comercial como um todo, e importar mais geralmente permite exportar mais (e, até, absorver mais tecnologia)”.
Velloso adverte, porém, que é preciso que “a situação seja sustentável, porque se tomarmos a importação líquida de bens e serviços (o déficit na conta corrente), é preciso ter como financiá-lo”.
Por outro lado, lembra que é importante “manter a orientação de sermos um global trader, comerciar com todos os blocos, sem precisar, necessariamente ter comércio equilibrado com cada um deles”. O economista Alexandre Marinis, da Mosaico Economia Política, diz-se “um ávido defensor do livre comércio.
Não tenho a menor dúvida de que, quanto maior o grau de abertura de uma economia, maior o bem-estar da população”.
Já o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco encara a declaração dos dois presidentes com certo ceticismo: “Minha sensação é que os presidentes, quando se trata de comércio exterior, pensam como diplomatas, nunca como economistas, e, por isso, pensam em comércio exterior como quem disputa um campeonato de futebol”.
Para ele, políticos e diplomatas “oscilam entre duas posições polares: a protecionista (quando há déficit) e a cosmopolita (pró-simetria, quando há superávit). Na presença de déficit, reclamam do protecionismo do parceiro, do câmbio, como quem está ‘perdendo’. Quando há superávit, são magnânimos, falam em simetria, em aumentar os laços (comprar mais) do parceiro, às vezes um tanto da boca para fora, mas é neste momento que os políticos se sentem ‘vencendo’, e por isso exaltam as virtudes do comércio exterior”.
Gustavo Franco diz que as situações difíceis para os políticos e diplomatas “são as que desafiam o saber mercantilista que os orienta: (1) quando o superávit é problema, como agora (pois mantém o câmbio em número incômodo); ou (2) quando é do interesse nacional liberalizar importações (para o bem do co
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