Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, novembro 06, 2006

Zero à esquerda


Artigo - FERNANDO DE BARROS E SILVA
Folha de S. Paulo
6/11/2006

Como intelectual, Emir Sader é um zero à esquerda. Não há registro de nada minimamente relevante ou inspirador no que escreve. Desde que a revolução o deixou a ver navios, seu ativismo tosco dedica-se à tarefa de atazanar jornalistas para plantar notinhas na imprensa burguesa que despreza.
Circula pela internet um abaixo-assinado a favor de Sader, contra a decisão do juiz que o condenou, entre outras coisas, à perda do emprego por ter ofendido o senador Bornhausen. A sentença é absurda, de fazer inveja a Kafka, e deve ser revista. Mas não é absurdo nem autoritário o direito do senador de processar quem o chama de "assassino", entre outros afagos. Sorte que a Justiça burguesa dê a Sader o direito de recorrer.
Esse episódio evoca um outro. Corria o ano feliz de 2003 quando o então superpoderoso Delúbio Soares decidiu processar Chico de Oliveira, que havia rompido com o PT e chamado a atenção para o modo de vida gangsterizado de petistas no poder. O tesoureiro exigiu indenização de R$ 50 mil e a retirada de circulação de um livro recém-lançado por Chico.
O peso da máquina do governo foi jogado contra o intelectual dissidente. Tudo indica que o esquema do mensalão tenha pago os advogados de Delúbio. Na ocasião, ninguém abriu o bico. Nem no PT nem na universidade. Onde estavam os milhares que hoje saem em defesa de Sader e a favor da "livre manifestação"? Covardia? Silêncio estratégico? Submissão ao poder?
Criticar Bornhausen é tão necessário quanto fácil. É o demônio do lado de lá. Explicar se há e qual é a diferença substantiva entre ele e Jader ou Newtão é um pouco mais complicado. E também mais útil.
A reeleição de Lula destampou a sanha vingativa de parte do baixo clero petista e reacendeu a tentação autoritária que ronda certos áulicos do Planalto, no governo e na mídia. A esquerda intelectual deve estar muito ocupada com a defesa de Sader. Veremos logo quem será o próximo Chico de Oliveira do petismo -não é mesmo, Marco Aurélio?

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