Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 07, 2006

Clóvis Rossi - O Mercosul ficou pequeno



Folha de S. Paulo
7/11/2006

Nas dobras do feriadão, passou quase inadvertida notícia que representa o mais duro golpe ao Mercosul desde a sua criação. Refiro-me ao convite ao rei da Espanha para que seja uma espécie de mediador entre Uruguai e Argentina na disputa em torno da construção de uma fábrica de celulose no lado uruguaio da fronteira entre os dois países.
Não pelo rei Juan Carlos, que é uma belíssima figura pública. Mas pela explicitação, por dois dos sócios do Mercosul, de que os instrumentos e mecanismos próprios do bloco não bastam para resolver a questão. É preciso, pois, recorrer a uma fonte externa.
Parece claro que o Mercosul, do jeito que está, cheio de buracos e de crises entre seus membros, ficou pequeno. O Uruguai não esconde que quer um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, única saída para o país, segundo o diplomata que negociava o acordo e acaba de renunciar.
Aliás, no Itamaraty, já há vozes que aceitam que o Uruguai faça um acordo com os EUA, encarando-o pragmaticamente, na medida em que acreditam que não causará prejuízos ao Brasil.
O problema, no entanto, não é o prejuízo comercial, mas a ruptura do bloco no formato atual, que proíbe esse tipo de entendimento entre um país-membro e um país externo ao Mercosul.
O acordo com os EUA só seria dispensável se o Brasil fornecesse ao Uruguai (e também ao Paraguai) um baita mercado. Ou, posto de outra forma, se o Brasil fosse uma China sul-americana, com um crescimento forte o bastante para funcionar como aspirador de todas as exportações possíveis dos vizinhos e sócios.
Esse tipo de crescimento e de aspirador não está nem remotamente à vista. É inevitável que os sócios olhem para outro lado, erodindo o que ainda é o pilar básico, primário, da política externa brasileira.

Arquivo do blog