O GLOBO
O abuso do poder econômico denunciado nas eleições internas do PT, com a utilização de cabos eleitorais pagos e transporte gratuito para eleitores, é conseqüência da profissionalização que tomou conta da militância do partido sob o comando do Campo Majoritário, retrato de sua falência moral. Coloca em xeque o sistema de eleição direta, que diferenciava o PT dos demais partidos.
Já a demora na apuração dos votos é conseqüência da falência financeira, mas é mais dentro da realidade de um partido que se quer popular. Quando ainda pareciam acima de qualquer suspeita, os integrantes da direção nacional haviam montado um espetaculoso esquema de votação eletrônica em todo o país, que daria o resultado em poucas horas. Havia até mesmo planos de contratar uma pesquisa de boca-de-urna, que certamente confirmaria a vitória do Campo Majoritário com perto de 80% dos votos dos militantes. A crise levou por água abaixo os planos mirabolantes, e deu no que deu: no domingo mesmo foram contabilizados todos os votos nacionalmente, só que cada diretório estadual reúne os votos na capital, e os envia para o diretório nacional. O resultado preciso talvez só saia hoje ou amanhã.
A tendência é ter segundo turno para a presidência, entre o candidato oficial Ricardo Berzoini, e um candidato da esquerda, provavelmente Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, facção que tem mais máquina partidária, com apoios como o da Prefeitura de Recife e o da ex-prefeita Marta Suplicy, que tem um esquema forte em São Paulo. Se confirmado Pomar no segundo turno, é um resultado que deixa o Campo Majoritário mais tranqüilo do que qualquer outro.
E uma grande incógnita para os que pensam em sair do partido caso a influência de José Dirceu se confirme. No diretório nacional, os da corrente de Pomar sempre fecham com o Campo Majoritário. No Congresso, seus deputados não participam do bloco de esquerda. Valter Pomar tem uma personalidade política muito parecida com a de José Dirceu, embora com posições diferentes. É "muito diretivo", ao estilo dos velhos dirigentes leninistas, dizem seus críticos.
É capaz de ligar para deputados da Articulação de Esquerda e mandar tirar assinaturas de um manifesto ou de uma CPI. É um homem de partido. Foi contra a CPI dos Correios, por exemplo. Foi contra a Comissão de Ética interna. Se confirmada sua presença no segundo turno, ela significará que sua corrente política terá também uma presença de peso na chapa que foi eleita ontem, o que é mais importante de fato do que saber quem será o próximo presidente.
O presidente do Campo Majoritário, primeiro José Dirceu, depois José Genoino, só conseguia impor sua vontade porque, além de a corrente ter tido maioria absoluta na eleição, ainda fez acordos políticos que lhe deram quase 70% do diretório nacional. Com a crise que explodiu dentro do partido, o presidente Tarso Genro, por exemplo, não conseguiu impor sua vontade à maioria do partido, o que mostra que o importante não é fazer o presidente, mas a maioria do diretório, através da votação ou, no caso atual, de acordos políticos internos.
O Campo Majoritário deve ter cerca de 40% do diretório, e tentará obter pelo menos mais 15% para continuar comandando o partido. O Movimento PT, da candidata Maria do Rosário, sempre que a política esquenta, fecha com o presidente Lula. Há ainda uma chapa nacional da Marta Suplicy, que é ligada ao Lula. O presidente Lula não ter ido votar, mesmo estando em São Paulo, foi uma indicação de que quer se distanciar do partido aos olhos da opinião pública, depois de ter tido insucesso em uma intervenção direta, quando deslocou nada menos que três ministros seus para reorganizar o partido, e tentou tirar da chapa do Campo Majoritário seu ex-braço direito José Dirceu. Com quem agora terá que negociar politicamente.
Mesmo que Dirceu venha a ser cassado, continuará a ter influência no partido, o que faz com que seus inimigos o comparem ao cacique do PMDB paulista Orestes Quércia. Dificilmente Lula se afastaria formalmente do PT, a não ser que decidisse não se candidatar à reeleição. O pragmatismo político faz com que Lula esteja afastado do partido na prática, para vender a imagem de um candidato acima dos partidos, especialmente acima do PT, que lhe garantiria a legenda, mas não cobraria questões programáticas, se se confirmar a ascendência do Campo Majoritário.
Mas é previsível que alguma mudança na política econômica seja exigida para os acordos com o Campo Majoritário, o que tornará a relação do partido com o governo, no mínimo, mais delicada. Mas sempre que Lula ameaça abrir mão da candidatura a presidente, o partido acaba fechando em torno dele, que continua sendo a única alternativa viável de poder, embora debilitado.
Também o grupo de esquerda dentro do PT, que reúne cerca de 25 deputados federais, pretende negociar pontos mais polêmicos, como a posição do partido em relação aos petistas que estão na investigação dos deputados, primeiro no Conselho de Ética, depois no plenário. Querem saber, por exemplo, se vão ficar impedidos de votar pela cassação de parlamentares petistas.
Querem também forçar a discussão da candidatura de Lula, que consideram que não pode ser considerada como natural, com o programa econômico que adotou. Teria que haver uma inflexão, uma retomada gradual e segura da queda da taxa de juros, redução do superávit primário, algum tipo de controle de capitais. Assim que for definido quem vai para o segundo turno, pretendem tirar do candidato definições. Se for Pomar, podem ter algum sucesso nas reivindicações de mudança na economia, dificilmente terão sucesso nas questões de disciplina interna.
Entrevista:O Estado inteligente
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