O ESTADO D S PAULO
Os dois são petistas, professores - um ensina História, outro Sociologia -, críticos do partido que integram desde sempre em suas carreiras políticas, ambos vêem com ressalvas a eleição de hoje para escolher a nova direção de um PT em estado de crise total. Não obstante estejam ideologicamente situados a uma certa distância entre si, Paulo Delgado é chegado ao centro e Chico Alencar integra a ala esquerda, os dois deputados federais compartilham a opinião de que o PT colhe hoje os resultados de erros acumulados no passado. Apesar do ponto em comum, suas análises contêm diferenças substanciais. Para começar, Delgado é contra a realização das eleições neste momento de terra arrasada; era favorável ao adiamento: "Com sete candidatos a presidente e a renovação de sua crença no conflito, na competição continuada, o PT consagra hoje o princípio do olhar voltado permanentemente para dentro." Alencar, fazendo justiça ao papel de radical, discorda logo de tudo de uma vez, da escolha direta de dirigentes. "Deixamos de lado o debate político entre militantes, nossa marca registrada, e optamos pelo exercício despolitizado de chegar, assinar a folha, votar e ir embora, no pior estilo cartorial da má tradição da cultura partidária nacional", argumenta Chico Alencar que, a depender do rumo das coisas depois desta eleição, pode até mesmo tomar outro rumo na vida, mudando de partido. Já Paulo Delgado faz questão de dizer que fica - "faço a crítica, mas não me retiro dela, não sou um dissidente" -, embora também pretenda um PT diferente, mais social-democrata, direção contrária à desejada por Alencar. Delgado vai buscar longe as origens da crise: lá no início dos anos 90, a partir de quando, segundo ele, o PT deixou de trabalhar a favor do alargamento dos limites da democracia negada nos anos 80 para se tornar um mero usuário das liberdades, sem participar da construção dos novos valores democráticos. O principal deles, a consolidação do conceito de estabilidade. "Naquela década o PT se recusou a contribuir com todos os projetos de estruturação da estabilidade." Paulo Delgado cita não apenas a estabilidade econômica - renegada pelo PT no repúdio ao Plano Real. Lembra da omissão no tocante à estabilidade política com a oposição ao governo Itamar Franco e a criação do governo paralelo quando perdeu a eleição para Fernando Henrique Cardoso. Tal instrumento, admissível nos regimes parlamentaristas, no presidencialismo embute a idéia de produção de instabilidade no poder constituído. Naquele período, Delgado aponta também a recusa do PT de apoiar a estabilidade fiscal, votando contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, e fazendo o mesmo em relação à Educação com a rejeição ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental, o Fundef. O deputado chama esse tipo de posição contrária a tudo e a todos de "oposicionismo triunfante". Para ele, no início da redemocratização, e mesmo na luta pela reconquista do estado de direito, isso fazia sentido. "Foi importante que o partido tivesse certas posições mais radicais, como a de não votar em Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, para firmar o conceito de afirmação da minoria em contraposição ao consenso produzido pela maioria. Isso alargou os horizontes da democracia e foi bom para o Brasil", argumenta. Mas, consolidadas as liberdades depois da Constituinte de 1988 e da primeira eleição pós-ditadura, no ano seguinte, Paulo Delgado acha que o PT descambou para o equívoco de fazer da crítica aos políticos um projeto eleitoral. O resultado é hoje conhecido: "Chegou ao poder com uma coalizão pequena, não usou os anos de democracia para ampliar suas alianças políticas com base na construção de novas identidades e precisou recorrer a outros métodos para formar uma base parlamentar." Como se recusa a assumir o papel de dissidente, Delgado também evita detalhar o que chama de "outros métodos", mas não precisa, porque o amigo leitor já sabe do que se trata. "Fernando Henrique fez parecido quando precisou das alianças sem identificação doutrinária para conseguir a reeleição, cometeu seu maior erro, ali perdeu a majestade e a chance de aprovar o parlamentarismo." Ao adotar o figurino da divindade furiosa que a todos condena, o PT, na visão de Paulo Delgado, acabou não sabendo assumir um compromisso como parte integrante da democracia e ainda atraiu para si a ira de todos. "Não tem sentido o PT virar o cordeiro de Deus e ser convocado para, com seu sangue, lavar os pecados da política brasileira. Mas o partido também precisa compreender que produziu os próprios infortúnios." Duas medidas O ministro Nelson Jobim é fiel ao posto atual quando lembra seu compromisso com "a regra do jogo" e não com a opinião pública. Se não mudar de planos, vai precisar mudar de idéia a partir de abril do ano que vem, quando deixará a presidência do Supremo Tribunal Federal para voltar à política refiliado ao PMDB.
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Entrevista:O Estado inteligente
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domingo, setembro 18, 2005
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