O Papa João Paulo II não conseguiu em vida operar o milagre da paz universal, nem da reconciliação planetária, como sonhava, mas sua morte promoveu momentos raros e improváveis de pesar unânime, concórdia e ecumenismo. Só mesmo por sua inspiração se poderia ver aquela imagem de Fidel Castro, contrito, assistindo a uma missa após 46 anos de afastamento da igreja. Só ele também para juntar num vôo de confraternização Lula, Fernando Henrique e José Sarney. Já não falo nem do sacrifício a que espontaneamente muitos nos submetemos, acordando de madrugada, não para ver a Copa do Mundo, mas para assistir a duas horas e meia de uma missa de exéquias.
Mas valeu. Em termos de pompa e liturgia, a cerimônia celebrada por Joseph Ratzinger e co-celebrada por 164 cardeais de todo o mundo, além de ter sido um dos maiores funerais da História, foi o espetáculo que mais se aproxima daquilo que se imagina ser uma festa litúrgica celestial. Inesquecível. Do lado de fora, no Rio de Janeiro, o nascer de um dia especialmente esplendoroso, com um céu sem névoa e nuvem, enquanto a televisão transmitia da Praça de São Pedro um ritual de gestos, sons e cores que só a velha Igreja Católica é capaz de produzir: missa em latim, órgão, coro, cânticos e salmos sublimes.
A coreografia só não foi impecável porque alguns sopros inconvenientes de um vento não programado ameaçaram às vezes arrancar das cabeças cardinalícias o solidéu e a mitra ou desarrumar a linda vestimenta dos cardeais, de um vermelho único. No mais, parecia um espetáculo regido por mãos divinas.
Um dos momentos mais significativos, porque inédito, foi o da homilia, não tanto pela liturgia em si — foi lido um resumo da vida de João Paulo II — mas pela interferência dos 300 mil fiéis que assistiam à cerimônia na Praça do Vaticano. Contei doze interrupções por palmas e gritos de entusiasmo. A mais demorada foi quando Ratzinger se referiu ao amor que o Papa dedicava aos jovens. A reação da platéia foi impressionante (vai explicar como um pontífice que era contra o uso da camisinha, o divórcio e o aborto conquistou de tal maneira a juventude). No final, houve uma espécie de canonização popular. A multidão gritava “Santo, já”, “Santo, já”, como se fosse um comício para uma eleição direta.
Entre as 200 autoridades mundiais ali presentes, havia alguns inimigos entre si, virtuais ou reais, como o presidente dos EUA, George Bush, e o do Irã, Mohamed Katami; o primeiro-ministro da Palestina, Nabil Shaat, e o presidente de Israel, Moshe Kastava. Tomara que a mensagem de paz de João Paulo II tenha agora algum efeito sobre eles, porque, enquanto ele era vivo, não teve.
Entrevista:O Estado inteligente
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