O brasileiro que tem conta em banco, que paga tarifas altas e que enfrenta as taxas extorsivas em qualquer operação de crédito pode, sim, olhar com mais cuidado o preço do dinheiro no Brasil. Mas não terá grandes escolhas. Os cinco maiores bancos brasileiros devem controlar perto de 70% dos pontos-de-venda do mercado bancário. O governo também deveria se movimentar para fazer reformas que possam levar à redução das taxas e à mais competição entre os bancos brasileiros.
Até o FMI acha o mercado bancário excessivamente concentrado no Brasil. E por isso há pouca diferença de tarifas. Uma pesquisa do Procon-SP, feita em dez grandes bancos, mostra que as taxas para cheque especial variam somente entre 7,9% e 8,4%, mensais. No caso de empréstimos pessoais, a variação também é pequena: vai de 4,1% a 5,85%.
O que o presidente Lula deve ter tentado dizer é que, quanto mais os consumidores dos serviços bancários se informarem sobre cada tarifa, cada ponto de juros, cada taxa de administração que pagam, mais poderão influir para impor alguma competição entre os bancos brasileiros.
O dinheiro mais barato do Brasil é o do BNDES. Ontem, o presidente do banco, Guido Mantega, anunciou medidas boas, que ajudarão a derrubar o custo desses empréstimos. No caso da compra de máquinas e equipamentos, o banco vai reduzir de 1,25% a sua parcela no custo do dinheiro e vai passar a cobrar 0,25%. Mas e o spread privado? Todo banco quer ser repassador de dinheiro do BNDES. Se todo mundo quer participar desse lucrativo mercado, por que o BNDES não começa a empurrar as instituições financeiras a reduzir também o spread? Mesmo depois do corte de ontem, a taxa será 13,95% ao ano. É juro subsidiado, mas, se compararmos com qualquer concorrente de empresas brasileiras no exterior, é muito alto. O programa de financiamento de caminhões, que deu errado até agora, vai ter uma redução de juros: sai de 17% para 15%.
O BNDES vai criar um sistema de aprovação mais rápido para empréstimos às grandes empresas brasileiras. O presidente do banco, Guido Mantega, explicou:
— As que já têm cadastro no banco, que operam com o BNDES há mais de cinco anos, que têm boa avaliação de crédito poderão tirar agora novos créditos em até quinze dias, quando antes demoravam seis meses.
Dinheiro com menos burocracia para as grandes empresas é bom, mas é preciso também pensar nas pequenas, micro e médias empresas. Afinal, o dinheiro do banco sempre foi mais concentrado nas grandes empresas.
Um dos caminhos para as empresas menores é o das cooperativas de crédito, que têm juros muito mais baixos. Em Maringá, no Paraná, integrantes da associação comercial montaram uma cooperativa que hoje já tem, no estado inteiro, 23.000 cooperados; só em Maringá, são 12.000. Atualmente, existem 30 linhas de crédito diferentes, com juros que variam entre 2% e 3,5% ao mês. É interessante ver que até os empresários têm como se mexer para reduzir os juros. Hoje, eles podem pegar empréstimos de até R$ 200.000. E não só eles. Para entrar nesta cooperativa, basta um depósito de R$ 20. Na visão das cooperativas, isso ainda traz um outro ganho: o dinheiro continua circulando na própria cidade, facilitando bastante a sobrevida das micro e pequenas empresas.
Sobre elas, Guido Mantega disse que, também para as micro e pequenas, haverá uma melhora no acesso ao crédito: vai aumentar em 50% o valor possível dos empréstimos quando estiverem associados a investimento. Um dos grandes problemas é que, normalmente, os agentes repassadores do BNDES cobram taxas menores de quem é maior e tem acesso a crédito internacional, e cobram taxas maiores para as pequenas empresas que não têm alternativa.
O governo anterior também se mexeu um pouco para reduzir o custo do dinheiro, mas o efeito foi menor do que eles imaginaram. Incentivou a vinda dos bancos estrangeiros para o Brasil e criou um sistema de informação das taxas cobradas em cada banco no site do Banco Central para estimular a competição. Isso reduziu um pouco os enormes spreads bancários, mas a taxa cobrada no cheque especial, por exemplo, ainda é, segundo o BC, de 146% ao ano.
O governo atual criou os créditos consignados em folha, o que diminuiu as taxas de juros cobradas de trabalhadores de grandes empresas formais. Mas isso é apenas uma forma de contornar o problema. É uma boa medida, mas que está, neste momento, indo na direção contrária da política monetária.
— Os juros estão mais altos, mas o dinheiro está mais barato. A política monetária não está tendo a eficácia na redução da demanda porque está havendo, ao mesmo tempo, uma expansão do crédito livre — disse Guido Mantega.
Mas o governo também tem que tirar seu traseiro da poltrona — para usar a expressão do presidente da República — e começar a pensar em mudanças mais radicais e de longo prazo: reformas que reduzam os gastos públicos, que derrubarão o risco-país de forma mais permanente. O presidente Lula, por exemplo, tem muito a fazer nessa área: pode propor uma boa agenda de reformas para o país, que enfrentem, de forma mais duradoura, tudo o que torna o Brasil o país do dinheiro mais caro do mundo.
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 27, 2005
Miriam Leitão: Nada trivial
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