Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 22, 2005

Miriam Leitão: Voto latino

A América Latina passará, de dezembro deste ano até o fim do ano que vem, por seis eleições presidenciais. Seriam sete, mas a incerteza paira sobre o Equador. O Chile será o primeiro e lá uma mulher está na frente. Em 2006, haverá eleições no México, no Peru, na Colômbia, no Brasil e na Venezuela. No México, o candidato da esquerda, que está na frente nas pesquisas, corre o risco de não poder concorrer.
Em dezembro de 2005, haverá eleições no Chile para suceder a Ricardo Lagos. Por enquanto, na frente nas pesquisas, estão duas mulheres, todas as duas foram ministras de Lagos. Michelle Bachelet era ministra da Defesa e é do partido socialista. O pai dela era general no governo Allende, foi preso por Pinochet e fuzilado. Está na frente das pesquisas, com 44% das intenções de votos. Maria Soledad Alvear é da Democracia Cristã e foi ministra das Relações Exteriores. Lagos sugeriu que ambas tentassem conquistar o apoio da coalizão de centro-esquerda que está no poder. Contudo, não se pode subestimar a força da direita chilena, que se organiza atrás do ex-prefeito de Santiago Joaquin Lavin, segundo colocado nas pesquisas.


No México, a eleição será em julho de 2006, mas o primeiro lance está sendo jogado agora. O candidato da esquerda, Manuel Lopez Obrador, prefeito da Cidade do México, do PRD, está na frente em todas as pesquisas e corre o risco de não concorrer. A prefeitura estava fazendo uma pequena estrada e um dos indenizados contestou na Justiça o valor da indenização. O juiz determinou a suspensão da obra e o secretário de Transportes desobedeceu. Isso se transformou num pedido de licença para processar Obrador por desacato à Justiça. Na semana passada, foi aprovado o desafuero — retirada de suas prerrogativas para que possa ser processado. Sendo processado, não poderá recorrer. Lopez Obrador é uma espécie de Lula, antes da Carta aos Brasileiros. A manobra para evitar sua candidatura foi criticada até pelo “Washington Post”.

O candidato do PRI será o presidente do partido, Roberto Madrazo. Desde que foi derrotado por Vicente Fox, o PRI ganhou várias eleições estaduais. No Congresso, é a primeira força. Há um sentimento de nostalgia em relação ao partido que governou o país por 71 anos. O terceiro candidato, do PAN, de Fox, pode ser o atual secretário de governo Santiago Creel.

No Peru, a eleição está prevista para abril do ano que vem e o candidato que está na frente é o político que fracassou na Presidência: Alan Garcia, no fim dos anos 80, fez um governo desastroso. Está na frente e representando o maior partido do país, o APRA. O candidato que terá mais chances, segundo diplomatas, é quem estiver no segundo turno com Alan Garcia. O presidente Alejandro Toledo continua em crônica baixa popularidade; ele ainda não disse o nome do seu candidato. O outro candidato é Valentin Paniágua. Ele assumiu o poder por alguns meses, após a queda de Fujimori, e conduziu a transição democrática.

Na Colômbia, o candidato mais forte é o atual presidente, Álvaro Uribe. Com a Venezuela em dezembro de 2006, fecha-se a temporada de eleições na América Latina, mas essa última tem tudo para ser turbulenta. Se ganhar, Hugo Chávez terá a possibilidade de ficar, ao todo, 15 anos no poder.

Na semana passada, Chávez mostrou toda a sua tropa de milícias populares.

— É um contingente maior do que as Forças Armadas. Uma força tão grande é justificada em razão do medo dos Estados Unidos, que o governo Bush torna real quando faz as declarações que tem feito sobre o governo venezuelano. Chávez tem usado muito bem as reações às declarações hostis do governo Bush — comenta o cientista político Marcelo Vasconcelos, do Iuperj.

O professor, coordenador executivo do Observatório Político Sul-Americano do Iuperj, conta que Chávez, desde que venceu o plebiscito, tem aumentado o poder em suas mãos. Já tinha o controle do Congresso. Agora aumentou a composição da Suprema Corte e nomeou pessoas leais a ele. Aprovou uma lei de censura à imprensa e controle dos meios de comunicação. Mudou o Código Penal, criando a idéia do Delito de Desacato, que prende quem o ofender por períodos de seis a trinta meses e proíbe manifestações em via pública. O presidente Lula disse que não aceitava que seu amigo Chávez fosse difamado. Chávez não precisa de quem o difame. Bastam seus próprios atos.

A América Latina terá, portanto, uma temporada de grandes emoções políticas. Felizmente, em muitos casos, tudo se passa dentro da mais absoluta ordem democrática. No Equador, o presidente deposto tentou, anos atrás, um golpe de Estado. Fracassado, tentou a via eleitoral. No poder, quis manobrar os outros poderes. Roteiro que funcionou na Venezuela. No México, tenta-se o casuísmo jurídico contra o favorito. Tudo isso preocupa, num continente de democracia recente e ainda instável.

O GLOBO

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