29.04.2005 | Ainda não foi desta vez que o agitado deputado Severino Cavalcanti repetiu o gol de placa da sua eleição a presidente da Câmara, na rebelião do baixo clero que engrossou com adesões, garantindo os 300 votos que tontearam o governo.7
Com a inusitada proposta de acabar com a autonomia ditatorial do Comitê de Política Monetária (Copom), na definição da taxa de juros, Severino acertou na trave, criando mais um embaraço para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Não parece provável que vingue a idéia, lançada sem prévia sondagem, de alterar a composição do Copom. Mas, a cutucada na ferida, arrancou sangue. No próximo lance anunciado, Severino pretende criar uma comissão para "retirar do Copom a competência de, isoladamente, conceber o aumento da taxa de juros". Falou grosso: "Do jeito que está, não pode continuar".
O oportunismo da jogada não esvazia a sua contundência. Severino surfou na onda da prepotência dos sábios do Comitê de Política Monetária na insensata escalada de aumentos que alcança a incômoda liderança mundial, com as calamitosas repercussões na dívida pública. De saída, recebeu o apoio do vice-presidente José Alencar, um crítico intransigente da política econômica do ministro Antonio Palocci, da Fazenda.
Insistindo no tiroteio, não apenas errou a pontaria como acabou atingido pelo ricocheteio das balas azaradas. A causa até que é justa. E não é de hoje que o Congresso resmunga e grita contra o excesso de Medidas Provisórias que entopem a pauta e trancam as votações. No embalo da catilinária atirou a esmo e esqueceu a cautela: "É o Executivo fazendo a agenda do Legislativo. Falta muito pouco para se igualar aos sombrios tempos do regime militar.Trata-se de um virtual fechamento do Congresso Nacional".
Remendos na biografia não tapam as cicatrizes da incoerência. O estouvado presidente da Câmara resguardou-se, durante os 21 anos da ditadura militar, de eventuais dissabores com a cautelosa militância no bloco governista. Desde o primeiro mandato como prefeito de João Alfredo (PE), de 1964 a 66, debaixo do guarda-chuva da UDN, até os sucessivos mandatos como deputado estadual por Pernambuco, bailou sem perder o compasso com as siglas do buquê ditatorial, saltitando, quando da imposição do bipartidarismo pelo AI-2, de 27 de outubro de 1965, para a Arena, em cujo ninho aconchegou-se até o final do regime militar.
A ambivalência tem lá suas comodidades, mas expõe a máscara da contradição. A crise que corrói até o cerne a autoridade moral do Legislativo não é curável por paliativos, como a varredura da poeira que tranca a pauta das votações. Muito mais profunda, a exigir a coragem cívica de medidas radicais, com a poda da praga das mordomias, das vantagens, dos privilégios desmoralizantes, como a verba de R$ 50 mil para a farra do nepotismo da contratação de assessores para os gabinetes dos parlamentares e o despudor da verba indenizatória de R$ 15 mil para as despesas de fim de semana.
Se a Câmara dos Deputados coça-se de ansiedade por votar, deve começar por restaurar o costume dos velhos tempos, com a semana útil de segunda a sexta-feira, como faz todo mundo que trabalha. Nem que à custa do sacrifício de morar em Brasília, que a maioria dos parlamentares detesta.
Severino, na versão de guardião da independência e do conceito do Congresso, poderia começar por dar a sua contribuição à cruzada moralizadora.
Até aqui, noves fora o recente surto de inquietação com o virtual fechamento do Congresso e da revisão sobre "os sombrios tempos do regime militar", o ilustre presidente da Câmara sempre jogou no outro time.
Nunca é tarde para mudar de camisa.
no mínimo
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sexta-feira, abril 29, 2005
Villas-Bôas Corrêa: A conversão de Severino
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