Some tudo. O principal formulador da política econômica deixa o governo. Um integrante da dupla decisiva da política monetária também sai. O Banco Central está num córner: os juros subiram oito meses seguidos e a inflação não cedeu. Pior: as previsões continuam sendo revistas para cima e há risco de que a inflação do ano bata em 7%. O BC está sob ataque de uma base política que o governo não consegue controlar. Na semana que vem, o Supremo voltará a discutir o pedido do procurador-geral da República de abertura de inquérito contra Henrique Meirelles.
Adicione os seguintes condimentos: o governo está aumentando seus gastos em termos reais há dois anos, o crescimento está em desaceleração e o ano eleitoral de 2006 chegou em 2005.
Existem atenuantes que o governo ontem tratou de explorar muito bem: primeiro, não deixou cadeira vaga, numa estratégia, já usada na área econômica na época de Luiz Augusto Candiota, de anunciar a saída já com o nome do sucessor. Segundo, o nome de Murilo Portugal é forte, é um funcionário público experiente, sabe tudo sobre controle de gastos e fará a ponte entre o Banco Central e a Fazenda, porque seu ex-assessor Alexandre Tombini vai para o lugar de Eduardo Loyo na Diretoria de Estudos Especiais.
Marcos Lisboa — que sai anunciando a mais velha de todas as explicações, a clássica "motivos pessoais" — está, sim, recém-casado e com filho nascendo. Porém é igualmente verdade que tem ficado sem espaço. Todas as reformas microeconômicas que costurou, para ocupar o tempo em um governo que não quer fazer as grandes reformas, estão paradas num Congresso que não anda. O governo perdeu há tempos o controle da pauta legislativa. Na Câmara, o partido do governo não pode apertar nenhum dos botões que a fazem andar, aprovar, deixar de aprovar, adiar votação, arquivar ou pôr em votação. Quem comanda o painel é a mesa da Câmara, onde o partido do governo, como se sabe, perdeu todas as cadeiras.
As reformas microeconômicas eram necessárias e aumentariam a eficiência da ação do governo. Marcos Lisboa costumava, nos painéis de debate sobre política econômica, apresentar uma grande lista delas e dizer que fariam uma enorme diferença. Mas, agora, nada é votado. A Câmara está entregue a quem está em busca de notoriedade. Todo dia, o deputado Severino Cavalcanti vai criar uma encrenca, fazer uma declaração despropositada, vocalizar um setor descontente para ganhar espaço nos telejornais e na imprensa escrita. Tem conseguido ocupar esse espaço com sucesso. A Câmara está à deriva porque o governo foi incapaz de comandar a unidade da sua base política, ocupar os postos estratégicos e apresentar uma agenda de projetos necessários.
A crise política, como já disse aqui, está fazendo com que o governo perca o melhor momento econômico. O melhor desse momento econômico está passando, enquanto o governo continua vendo apalermado, a cada dia, um novo factóide saindo diretamente da sua base política, como essa de entregar o Copom a quem paga juros.
O governo aumentou os gastos, contratou muito, continua com problemas de desempenho na gestão e ainda não conseguiu até agora aprovar uma PPP sequer. No ano passado, o crescimento garantiu a cobertura do aumento do gasto, mas o crescimento está em queda, prenunciando um 2006 mais difícil.
A única boa notícia que está na linha do horizonte é a chance de anunciar as primeiras duas PPPs: uma obra ferroviária, uma boa rodoviária. Devem ser as Ferrovia Norte Sul e a Rodovia 116. Mas, antes do edital, será preciso fazer as audiências públicas e outros trâmites burocráticos. Se tudo for feito rapidamente, pode ser que essas obras sejam iniciadas para começar a desengargalar o país. Mas, a partir de abril do ano que vem, não pode ser feita qualquer contratação de gasto para ser executado em 2007, por determinação da Lei de Responsabilidade Fiscal.
O governo está chegando ao fim, muito cedo, exatamente pelo erro que cometeu. Na campanha eleitoral, o presidente da República ficará mais feliz, porque ele tem um gosto especial, como se sabe, pelo palanque. Deve ter sido com um olho já na campanha que ele venceu a resistência à imprensa e decidiu dar hoje a primeira entrevista coletiva do seu governo, iniciado há dois anos e meio.
O Banco Central está num beco sem saída. Aumentou as taxas de juros a níveis altíssimos e ontem divulgou uma ata em que não dá qualquer conforto de que essa temporada de elevações tenha terminado. A inflação tem aumentado. O economista Luiz Roberto Cunha acha que há um grande risco de que termine o ano em 7%. Os bancos ainda estão prevendo algo em torno de 6%, mas todo dia um banco divulga a seus clientes a revisão da previsão. Semanalmente, o Banco Central colhe essa informação na sua pesquisa Focus.
A política monetária era decidida principalmente pela dupla Eduardo Loyo-Afonso Bevilaqua. Mais por esse último, é verdade, que é o diretor de Política Econômica. Mas os dois, por afinidades, por terem amizade, por terem trabalhado juntos na PUC, operavam em dupla. Loyo vai agora para o FMI. Os novos tempos exigirão muito mais arte, perícia e prestígio do ministro Antonio Palocci.
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, abril 29, 2005
Miriam Leitão:Dificuldade à vista
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