Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, abril 29, 2005

CLÓVIS ROSSI :Todos são frágeis

 SÃO PAULO - Se é para valer a sua definição para democracia, Condoleezza Rice, a secretária norte-americana de Estado, terá de incluir todos os países latino-americanos na relação dos "Estados frágeis".
Retornemos à definição, conforme o relato de Eliane Cantanhêde e Cláudia Dianni na Folha de anteontem: "Democracia não é só eleição", começou Rice. Engatou: "Nosso trabalho tem que ser buscar políticas que dêem à democracia uma chance não apenas de realizar eleições mas também de realmente oferecer isso [educação, saúde e oportunidade para todos] a seu povo".
Como é óbvio, o Brasil não oferece nem educação, nem saúde, nem oportunidades para todos. Logo, seria igualmente um "Estado frágil". Vale o mesmo para qualquer outro dos países latino-americanos, grandes ou pequenos.
Olhe-se agora um pouco mais para o norte: na Nicarágua, começa a se instalar um cenário, digamos, "equatoriano" (ou "boliviano"? Ou "argentino", se a memória recuar para 2001?). Ontem, o presidente Enrique Bolaños foi agredido com pedras e sacos de água e de lixo. Escapou ileso, mas seu filho sofreu cortes na cabeça. Não é exatamente uma situação corriqueira em Estados sólidos.
É evidente que a América Latina não é uma região homogênea, por mais que tenha algumas características comuns. Mas supor que Belize e Brasil, Uruguai e Haiti, por exemplo, tenham algum parentesco grande é iludir-se.
Não obstante, todos os países do subcontinente caem na categoria "não oferecer oportunidade para todos", uns mais, outros menos, mas mesmo os "menos" têm um fenomenal déficit social.
Se os Estados Unidos estão mesmo preocupados com a democracia na América Latina, deveriam dar atenção a esse déficit, muito mais ameaçador do que os desvarios do presidente Hugo Chávez.

FOLHA DE S.PAULO

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