Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 09, 2005

Folha de S.Paulo - Clóvis Rossi: O que fica? - 09/04/2005

ROMA - Escrever a quente tem uma vantagem, que é a de dar temperatura ao texto, a temperatura do ato/ pessoa/momento sobre o qual se escreve. Mas tem uma desvantagem: é impossível saber se o que está se vendo dura ou morre logo.
Quando o presidente Tancredo Neves foi enterrado, faz 20 anos exatos, também havia multidões nas ruas das cidades pelas quais passou o cortejo. Na hora, parecia um evento histórico com conseqüências políticas duradouras. Falso. Um mês depois, pouco se falava de Tancredo. Hoje, então, não tem um herdeiro nem um conjunto de idéias que sirva de bandeira para um partido político.
No caso do papa João Paulo 2º, a cerimônia final de sepultamento foi de fato impressionante. Mais do que nada, no meu caso, a impressão foi causada pela massa de poloneses, principalmente jovens, que afluiu a Roma para a despedida.
Era tanto vermelho e branco, as cores da bandeira da Polônia, que dava a sensação de que não tinha ficado ninguém no país.
Nada de excepcional, dirão os céticos/cínicos. Afinal, o papa era polonês e nem mesmo a era da globalização anulou as fronteiras das ligações sentimentais/nacionais.
É fato. Mas a ligação sentimental precisa ser muito forte para que tanta gente se animasse a uma viagem de 36 horas de trem (ou de ônibus, um pouco mais), alojamentos precários, filas de oito, nove horas, para despedir-se do compatriota.
A questão é saber se essa devoção, não apenas dos poloneses, perdura e tem conseqüências na vida da igreja. É esse ponto, na verdade, o mais importante, que não sei responder.
Mas o ceticismo que está no DNA do jornalista me faz desconfiar. Multidões também saudaram o papa nas suas visitas ao Brasil. Alguém se anima a dizer que o país, depois delas, ficou mais impregnado dos valores centrais do cristianismo?

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