A decadência das grandes cidades brasileiras, São Paulo e Rio em particular, gera uma nostalgia por um passado que muitos vêem como glorioso. Alguns cariocas ainda sonham, 45 anos depois da mudança da capital, com o retorno do governo federal, enquanto paulistas defendem a volta de uma política industrial que assegure a primazia da área metropolitana de São Paulo na produção manufatureira no Brasil.
A crise das grandes cidades brasileiras exige uma política urbana inteligente, e avanços recentes do conhecimento da economia das cidades podem ajudar em sua formulação. Mudanças estruturais nas últimas décadas transformaram a razão econômica para a existência de cidades. No passado, a função econômica primordial de uma cidade era poupar custo de transporte. Uma fábrica localizava-se em São Paulo porque muitos dos seus fornecedores e compradores lá estavam. Assim, uma pequena vantagem inicial de localização em São Paulo foi suficiente para transformar essa área no grande centro da indústria nacional. Esse mesmo mecanismo ajudou a criar em Nova York ou em Paris importantes centros manufatureiros.
A diminuição do custo de transporte de longa distância, assim como o aumento do valor das mercadorias em relação ao peso -compare um chip a um componente mecânico-, diminuiu em muito essa vantagem dos centros industriais urbanos. A abertura das economias reforçou esse processo. O principal fornecedor de uma empresa brasileira pode estar na China ou no México, e o principal comprador, na Argentina ou nos EUA. Nesse caso, a escolha da localização de uma nova fábrica vai ser feita em função do custo da mão-de-obra, da proximidade de um porto ou da localização de algum insumo. Em todo o mundo, a indústria foi descentralizada.
A mudança das indústrias para novas localidades afetou profundamente a estrutura urbana, e nos EUA a decadência das grandes cidades foi vista como um fato consumado. No entanto, a partir da década de 80, viu-se um renascimento surpreendente em alguns centros urbanos, e Nova York, Chicago e Boston são hoje exemplos de grande sucesso. Essas e outras cidades bem-sucedidas se estabeleceram como produtoras de serviços que dependem de um acesso rápido a idéias e tecnologias, o que é mais facilmente obtido em áreas com uma boa densidade populacional. Nova York, por exemplo, é hoje um grande centro das indústrias financeira, médica e educacional. Mas essas cidades tornaram-se também importantes centros de consumo. Nos fins de semana, um estacionamento em Manhattan fica lotado de carros com placas de Connecticut e Nova Jersey. Mais importante ainda é que muitas empresas decidem se instalar em Nova York porque uma força de trabalho cada vez mais afluente quer lá viver para beneficiar-se da ampla oferta de serviços culturais e de diversão.
Em contraste, Detroit, Filadélfia e St. Louis nunca se recuperaram da perda de empregos em suas indústrias tradicionais. A evidência mostra que as cidades que conseguiram superar a crise começaram, em geral, com uma força de trabalho mais educada do que as das cidades que ficaram estagnadas. A fração da população com educação secundária completa parece ter desempenhado um papel particularmente importante na recuperação das grandes cidades. Estudos empíricos apontam pelo menos dois outros fatores que influenciaram positivamente o desempenho das áreas metropolitanas: a redução da criminalidade e a existência de bens culturais -freqüentemente subsidiados pelos governos. Nas cidades mais densas, a diminuição do tempo de transporte também contribui para um maior crescimento econômico.
As áreas metropolitanas no Brasil têm problemas ainda mais graves, entre os quais uma crescente favelização. Se as principais causas desse fenômeno, a pobreza e a desigualdade econômica, só podem ser verdadeiramente atacadas em nível nacional, as autoridades locais podem contribuir para aliviar algumas das suas piores conseqüências por meio de programas de urbanização das favelas, do estabelecimento de direitos de propriedade mais claros para os seus habitantes e de uma política consistente de ocupação do solo. Isso não impede que as prefeituras e os governos estaduais se beneficiem da experiência internacional, que aponta a importância de aumentar o acesso e a qualidade da educação secundária, de criar uma polícia mais eficiente e menos corrupta, de ajudar a gerar e preservar um ambiente cultural dinâmico e de melhorar a estrutura de transporte urbano.
FOLHA DE S.PAULO
Entrevista:O Estado inteligente
- Índice atual:www.indicedeartigosetc.blogspot.com.br/
- INDICE ANTERIOR a Setembro 28, 2008
domingo, abril 24, 2005
Quando as cidades dão certo - JOSÉ ALEXANDRE SCHEINKMAN
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Arquivo do blog
-
▼
2005
(4606)
-
▼
abril
(386)
- VEJA Entrevista: Condoleezza Rice
- Diogo Mainardi:Vamos soltar os bandidos
- Tales Alvarenga:Espelho, espelho meu
- André Petry:Os corruptos de fé?
- Roberto Pompeu de Toledo:A jóia da coroa
- Baby, want you please come here - Shirley Horn, vo...
- O mapa da indústria GESNER OLIVEIRA-
- JANIO DE FREITAS:A fala do trono
- FERNANDO RODRIGUES:220 vezes "eu"
- CLÓVIS ROSSI :Distante e morno
- PRIMEIRA COLETIVA
- Dora Kramer:Lula reincorpora o candidato
- AUGUSTO NUNES :Entrevista antecipa tática do candi...
- Merval Pereira:Mãos de tesoura
- Miriam Leitão:Quase monólogo
- O dia em que o jornalismo político morreu
- Eles, que deram um pé no traseiro da teoria política
- Lucia Hippolito: O desejo de controlar as informações
- Goin way blues - McCoy Tyner, piano
- O novo ataque ao Copom - LUIZ CARLOS MENDONÇA DE B...
- JANIO DE FREITAS :Mensageira da crise
- FHC concedeu coletiva formal ao menos oito vezes
- CLÓVIS ROSSI :Todos são frágeis
- ELIANE CANTANHÊDE :Pelo mundo afora
- NELSON MOTTA:Coisas da política ou burrice mesmo?
- Dora Kramer: PFL quer espaço para Cesar
- Miriam Leitão:Dificuldade à vista
- Luiz Garcia :Tiros sem misericórdia?
- Merval Pereira:Barrando o terror
- Villas-Bôas Corrêa: A conversão de Severino
- Lucia Hippolito: A hora das explicações
- Let’s call this - Bruce Barth, piano
- CÂMBIO VALORIZADO
- CLÓVIS ROSSI :Quem manda na economia?
- ELIANE CANTANHÊDE :"Milhões desse tipo"
- DEMÉTRIO MAGNOLI:Preto no branco
- LUÍS NASSIF :As prestações sem juros
- Dora Kramer:À sombra dos bumerangues
- Miriam Leitão:Erro de identidade
- Merval Pereira:Sentimentos ambíguos
- Guilherme Fiuza:A culpa é do traseiro
- Georgia on my mind - Dave Brubeck, piano.
- Lucia Hippolito: Ele não sabe o que diz
- PALPITE INFELIZ
- TUDO POR UMA VAGA
- CLÓVIS ROSSI:Presidente também é 'comodista'
- FERNANDO RODRIGUES:Os traseiros de cada um
- "Liderança não se proclama", afirma FHC
- O dogma de são Copom- PAULO RABELLO DE CASTRO
- LUÍS NASSIF:Consumo e cidadania- ainda o "levantar...
- Dora Kramer:Borbulhas internacionais
- Zuenir Ventura:Minha pátria, minha língua
- ELIO GASPARI:Furlan e Bill Gates x Zé Dirceu
- Miriam Leitão: Nada trivial
- Merval Pereira:Palavras ao léu
- REFLEXOS DO BESTEIROL
- Villas-Bôas Corrêa: A greve das nádegas
- AUGUSTO NUNES:O Aerolula pousa no mundo da Lua
- VEJA:Jorge Gerdau Johannpeter
- XICO GRAZIANO:Paulada no agricultor
- Por que ele não levanta o traseiro da cadeira e fa...
- Lucia Hippolito: Eterno enquanto dure
- Luiz Garcia:Sandices em pleno vôo
- Arnaldo Jabor:Festival de Besteira que Assola o País
- Miriam Leitão:Economia esfria
- Merval Pereira:Liberou geral
- GUERRA PETISTA
- Clóvis Rossi:Apenas band-aid
- ELIANE CANTANHÊDE:De Brasília para o mundo
- JANIO DE FREITAS:Os co-irmãos
- Dora Kramer: Sai reforma, entra ‘mudança pontual’
- AUGUSTO NUNES O pêndulo que oscila sobre nós
- Resgate em Quito (filme de segunda)
- Round midnight - Emil Virklicky, piano; Juraf Bart...
- Reforma política, já- Lucia Hippolito
- INCERTEZA NOS EUA
- VINICIUS TORRES FREIRE :Bento, Bush e blogs
- FERNANDO RODRIGUES: Revisão constitucional
- Os trabalhos e os dias- MARCO ANTONIO VILLA
- Zelão / O Morro Não Tem Vez - Cláudia Telles
- Fora de propósito
- JOÃO UBALDO RIBEIRO:Viva o povo brasileiro
- Merval Pereira: O desafio das metrópoles
- Miriam Leitão:Música e trégua
- DEMOCRACIA INACABADA
- GOLPE E ASILO POLÍTICO
- CLÓVIS ROSSI:A corrida pela esperança
- ELIANE CANTANHÊDE:Asilo já!
- ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES: Reforma tributária e ga...
- ELIO GASPARI:A boca-livre deve ir para Quito
- JANIO DE FREITAS:Sonho de potência
- LUÍS NASSIF Racismo esportivo
- Quando as cidades dão certo - JOSÉ ALEXANDRE SCHEI...
- AUGUSTO NUNES: O encontro que Lula evita há dois anos
- O depoimento de uma brasileira no Equador
- Sabiá - Elis Regina]
- Diogo Mainardi:A revolução geriátrica
- Tales Alvarenga:Assume mas não leva
- André Petry: Isso é que é racismo
- Roberto Pompeu de Toledo:Fato extraordinário:um pa...
-
▼
abril
(386)
- Blog do Lampreia
- Caio Blinder
- Adriano Pires
- Democracia Politica e novo reformismo
- Blog do VILLA
- Augusto Nunes
- Reinaldo Azevedo
- Conteudo Livre
- Indice anterior a 4 dezembro de 2005
- Google News
- INDICE ATUALIZADO
- INDICE ATE4 DEZEMBRO 2005
- Blog Noblat
- e-agora
- CLIPPING DE NOTICIAS
- truthout
- BLOG JOSIAS DE SOUZA
Nenhum comentário:
Postar um comentário