O vice-presidente, José Alencar, tão criticado e massacrado por companheiros de Governo quando levantou a bandeira do combate à política de juros do Governo por ele vice-presidido, venceu.
Ganhou a companhia do presidente Luiz Inácio da Silva na polêmica, recebendo também a adesão do ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, na liderança de uma "cruzada" nacional contra as altas taxas.
Furlan inclusive prega um levantamento geral, dando caráter cívico ao soerguimento nacional de "derrières" defendido pelo presidente da República. "As pessoas precisam tomar uma atitude", convida o ministro.
A questão em suspenso é saber aonde querem chegar. Tanto Furlan quanto Alencar e Lula estão chamando o País a combater uma política adotada por eles mesmos. Se isso não faz parte de um plano estratégico de objetivo ainda imperceptível a olho nu, nenhum deles se dá conta do efeito bumerangue contido em suas ações.
Na melhor e mais evidente das hipóteses, Lula acaba de chancelar a polêmica em torno da política econômica e a contestação à posição do ministro da Fazenda, Antonio Palocci.
Portanto, ponto para o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, ponto para a esquerda do PT e que busquem por eles próprios o chão abaixo dos pés aqueles até então fiéis à política monetária, mesmo em contrariedade às próprias convicções, por observância a uma questão de Estado.
Este é o cenário mais organizado dos efeitos prováveis dessa inusitada autodeclaração de guerra.
A conseqüência mais desarrumada que se pode vislumbrar remete a episódios frescos na memória nacional. Guardadas as devidas e as indevidas proporções, o Governo arrisca-se em terreno semelhante ao experimentado pelo então presidente Fernando Collor quando, acuado, pediu ao povo que saísse às ruas de verde e amarelo para defendê-lo.
A população saiu, mas foi de preto.
Custa crer que presidente e ministros não enxerguem o potencial de risco de adotar o ataque como arma de defesa, justamente num ponto do qual o Governo está totalmente impossibilitado de se desvincular, pois é da política econômica que vem sobrevivendo objetiva e politicamente falando.
Sem contar o flanco que se abre à oposição. Ontem estava o senhor Severino Cavalcanti a ocupar microfones dando palpites sobre as atribuições do Comitê de Política Monetária. Posando ao lado como discípulo, o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman.
A ambos coube apenas deitar e rolar. A oportunidade foi criada pelo presidente, o vice, o ministro e sabe-se lá quem mais se disponha ao papel de cruzado desse louco combate.
Tais posições erráticas têm finalidade ainda obscura. Mas fazem suspeitar que o presidente da República já esteja em busca de alguém em quem pôr a culpa na campanha de 2006. Como ao antecessor será difícil imputar toda a responsabilidade, o presidente faz do juro um vilão independente.
O problema é a natureza fantasiosa, e por isso artificial, da situação da qual todos – à exceção do Governo – se dão conta: a taxa de juros oficial não é obra da classe média nem fruto da inspiração do Espírito Santo, é resultado da política econômica do Governo cujos integrantes têm nome, sobrenome, CPF e endereço profissional conhecido.
Frases com efeito
As críticas presidenciais à inércia da população ante os juros altos contradizem o lema da campanha "o melhor do Brasil é o brasileiro".
Quando o departamento oficial de propaganda e marketing não convence nem o presidente da República, algo de muito errado há.
E o slogan da segunda fase da campanha? A frase "um bom exemplo, tudo começa por aí" pode ser usada pelos referidos comodistas para devolver a bola ao seu devido lugar: o Banco Central.
Hamlet total
Começa de novo a se desenhar no PSDB o movimento de ser ou não ser já visto nas três mais importantes decisões eleitorais do partido nos últimos 11 anos: as candidaturas presidenciais de Fernando Henrique e José Serra, em 1994 e 2002, e o lançamento de Serra para a Prefeitura de São Paulo, em 2004.
A decisão para 2006, que não parecia tão difícil assim dada a aparente precedência dos governadores Geraldo Alckmin e Aécio Neves sobre outras opções tucanas, tornou-se complicadíssima com a entrada forte em cena do nome de José Serra.
A complicação não está apenas na dificuldade de explicar ao eleitorado paulistano que ele votou em Serra, mas terá de ficar com o vice Gilberto Kassab (PFL).
É difícil, quase impossível, para o PSDB ignorar os índices da pesquisas – caso continuem registrando mesma tendência – que mostram o prefeito de São Paulo como o candidato de oposição mais bem colocado e já vestido no figurino de anti-Lula.
O DIA
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