"Os católicos, segundo dom Cláudio
Hummes, precisam olhar para a frente.
É um erro. Seu lugar é lá atrás. O melhor
argumento de que a Igreja dispõe é o
mesmo de sempre: as profundezas do inferno"
Dom Cláudio Hummes é candidato a papa. Eu voto contra. No meu conclave particular, dou-lhe fumacinha preta. Ele diz que a Igreja Católica "está a serviço dos pobres". Que seu papel é "combater o privilégio e a desigualdade social". Que a "pobreza, hoje, é mais desumana". Que o desemprego é causado pela "globalização e pelo neoliberalismo". Que a "reforma agrária deve ser acelerada". Que o agronegócio não garante a "justiça social". Que o Fome Zero é um "feito muito grande em termos de distribuição de renda". Que o homem precisa "entender que dá para ser feliz com menos". Que é urgente abandonar as "ambições individualistas".
A única maneira que a Igreja tem para ajudar os pobres é dar-lhes sopa e roupa velha. Não é a opinião do cardeal Cláudio Hummes. Ele acredita que a religião pode fazer muito mais, funcionando como um contrapeso para o capitalismo e a sociedade de consumo. A maior parte dos discípulos de João Paulo II exibe a mesma presunção. Eles imaginam que o papa de fato derrubou o comunismo. E que, a seguir, derrubaria também os aspectos mais daninhos do capitalismo, que se manifestam sob a forma de um degenerado materialismo. É um erro de avaliação da hierarquia católica. Em primeiro lugar, quem derrubou o comunismo foi o capitalismo, e não o papa. Em segundo lugar, o grande atributo do capitalismo é a capacidade de se corrigir sozinho. Sem religião. Sem papa. Sem o cardeal de São Paulo.
O principal ponto da plataforma papal de dom Cláudio é que "a Igreja não pode dar respostas antigas a perguntas novas". Não tenho idéia do que isso significa. Claro que a Igreja pode dar respostas antigas. O que não pode dar são respostas novas. Qualquer tentativa de encontrar respostas novas para questões como células-troco embrionárias, ou aborto, ou eutanásia, ou métodos contraceptivos será sempre grotescamente malsucedida. A melhor saída é fazer o contrário do que diz dom Cláudio. Em vez de enfrentar os temas da modernidade, a Igreja deve simplesmente ignorá-los. Dom Cláudio gosta de pescar e tocar violino. É uma vantagem. Quando lhe perguntarem sobre as células-tronco embrionárias, ele pode sair para pescar ou se fechar no quarto com seu violino. Se não tiver para onde escapar, o conselho é abrir a Escritura ao acaso e citar o primeiro versículo que lhe saltar aos olhos. Uma resposta antiga certamente será menos imprópria do que um arremedo de resposta nova.
Dom Cláudio é tido como um conservador no campo moral. Deveria ser mais. Um exemplo: mães solteiras. Elas representam um dos maiores problemas sociais do país, porque só contam com a renda de um salário. Se dom Cláudio fizesse uma cruzada amaldiçoando os homens que abandonam as mulheres grávidas, o resultado certamente seria nulo, mas pelo menos colocaria a Igreja do lado da razão. Os católicos, segundo dom Cláudio, precisam olhar para a frente. É um erro. Seu lugar é lá atrás. O melhor argumento de que a Igreja dispõe é o mesmo de sempre: as profundezas do inferno.
Entrevista:O Estado inteligente
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