O presidente Lula, quando quis chegar ao poder, tratou de organizar um partido. O presidente Hugo Chávez, quando quis o poder, armou um golpe, foi preso e só ao ser indultado é que tentou a via eleitoral. Lula negociou para formar maioria após ser eleito e aprovar, a duras penas, a reforma que achava necessária. Chávez dissolveu o Congresso, convocou novas eleições, aproveitando-se da lua-de-mel logo após a posse. Controlando o Legislativo, transformou-o em constituinte e reformou a Constituição como bem quis. Os dois são diferentes; alguém precisa dizer isso ao presidente Lula.
Os caminhos de Chávez são inaceitáveis. Lula tenta unir grupos políticos com pensamentos diferentes. Tem fracassado até em juntar os cacos dos partidos da base, mas usa a arma do convencimento. Chávez dividiu seu país de uma forma dramática e talvez irreversível. Lula já nomeou quatro ministros do Supremo, por direito constitucional, mas nenhum deles está lá para dizer amém ao governo. Chávez mudou a composição da Suprema Corte para ter o controle do Judiciário. O mesmo golpe que o nosso hóspede Lucio Gutiérrez tentou no Equador e não emplacou.
Chávez usa as instituições democráticas contra a democracia. A imprensa o detesta e cometeu o absurdo erro de aderir até a tentativa de golpe de Estado. Para vencê-la no tapetão, que é onde sabe brigar, o presidente venezuelano aprovou uma lei dos meios de comunicações restritiva e antidemocrática. Essa idéia Lula até tentou copiar através dos fracassados Ancinav e Conselho Federal de Jornalismo. Quando o Brasil disse claramente a Lula que não queria aquele caminho, ele recuou, retirou as propostas e, por enquanto, não fala mais do assunto. Chávez foi até o fim e acabou transformando em crime de desacato criticá-lo.
A tricéfala diplomacia brasileira gosta muito de defender o presidente venezuelano, argumentando que ele venceu o plebiscito convocado para tirá-lo do poder. Venceu mesmo, mas, de novo, foi à maneira Chávez: tentou evitar o quanto pôde o mecanismo introduzido por ele mesmo na Constituição; quando foi obrigado a fazê-lo, aproveitou-se de um raro bom momento econômico, distribuiu dinheiro da estatal de petróleo em campanhas populistas e assim venceu o plebiscito. Outra técnica usada por ele é bem conhecida das ditaduras populistas: enfraqueceu os partidos e estabeleceu relação direta com as massas. Isso faz com que nem se saiba quem vai concorrer com ele nas eleições do ano que vem, nas quais pode garantir sua permanência no poder até 2013. Não basta ser eleito, tem que ser democrático.
O Brasil deve se relacionar com todos os governos, mesmo os que são bem diferentes do país. É claro. Mas, desde o início do mandato, o governo do presidente Lula vai além do que diz o manual diplomático das relações cordiais e integração econômica. Quer ser o defensor de Chávez, mostra excessiva intimidade e alinhamento com suas posições internacionais.
O governo americano comete erros primários na relação com o presidente venezuelano. Adota atitudes que só ocorrem às mentes em que o excesso de ideologia revoga a inteligência. Quando os poderosos do gabinete de guerra de Bush dão demonstração de hostilidade em relação a Chávez, ele fica com a faca e o queijo na mão: pode posar de herói da resistência e justificar todas as suas atitudes bizarras. Ele, evidentemente, não tem capacidade de se armar o suficiente para enfrentar militarmente os Estados Unidos. Seu poderio bélico servirá aos seus propósitos, de intimidar cada vez mais qualquer oposição. É para isso que ele vem montando seu exército particular, as chamadas Brigadas Bolivarianas.
Gastar uma viagem de Condoleezza Rice ao Brasil nesse tipo de querela é perda de tempo. Os Estados Unidos são o nosso maior parceiro comercial individual. Para ele é que mandamos um de cada cinco dólares exportados pelo Brasil. É para ele que todos querem exportar. Há barreiras ao comércio a serem removidas, há diálogos truncados a serem esclarecidos. Mas o Brasil prefere adotar a infantil postura do antiamericanismo, jactar-se de ter dito não à potência e comemorar o fracasso da negociação da Alca.
HOJE a Itaipu Binacional vai anunciar um corte no orçamento, que inclui custeio e investimentos. Como a tarifa da empresa é dolarizada e o dólar não pára de cair, o preço da energia vendida às distribuidoras está cada vez mais baixo. Faz parte do pacote o lançamento de um plano de demissão voluntária.
A OIT no Brasil será chefiada por uma mulher. Laís Abramo, especialista em desigualdade de gênero, assumirá o cargo deixado vago por Armand Pereira, que foi promovido e está de mudança para Washington.
O GLOBO
Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 28, 2005
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