Lucia Hippolito: Ele não sabe o que diz

"Pelo que anda falando o presidente da República, dá para desconfiar que ele não entra num banco nem assina um cheque há mais de dez anos. Alguém deve fazer isso para ele, e não é de hoje.
Só assim é possível entender o que o presidente Lula disse anteontem.
Nem quero comentar a deselegância da agressão à classe média. Mas dizer que as pessoas podem ir a um computador e transferir sua conta bancária de um banco para outro é desconhecer o be-a-bá da vida de correntista.
Dizer que as pessoas devem procurar um banco com juro mais barato é simplista demais. Banco não é supermercado, que o consumidor pode escolher na hora, decidindo não comprar arroz aqui no mercado da esquina, para comprar ali, no mercado da outra esquina, porque é mais barato.
A classe média, coitada, acusada de responsável pelos juros altos, na maioria das vezes é obrigada a manter conta em um determinado banco, porque é ali que a empresa deposita os seus salários.
E não adianta ter conta em vários bancos, porque as tarifas bancárias estão pela hora da morte.
Mas o presidente da República foi além. Chamou a classe média de conformista e inconsciente, até porque, segundo ele, "não é pobre que tem cartão de crédito".
Talvez alguém pudesse contar ao presidente Lula que a sociedade brasileira é muito mais complexa e diferenciada do que supõe esta visão simplezinha.
Alguns pobres possuem sim, cartão de crédito. Basta estar empregado e receber salário em conta bancária, que o gerente do banco corre logo a tentar empurrar pela goela do correntista abaixo um cartão de crédito.
Se o presidente está querendo se referir aos miseráveis, é outra coisa. Mas estes não possuem nem emprego, nem renda, essas coisas que Lula acha que são coisas de rico.
Agora, bem que o presidente podia dar uma mãozinha. Por exemplo, determinando que a Caixa Econômica Federal, um banco social por excelência, empreste dinheiro sem juros.
A classe média ia ficar encantada."
BLIG Ricardo Noblat