Entrevista:O Estado inteligente

sábado, abril 23, 2005

FERNANDO RODRIGUES:Índios, perdão e ação


 BRASÍLIA - Nada contra, tudo a favor o presidente da República pedir perdão aos índios pelo que foi feito a eles nos últimos 500 anos. Mas o ato simbólico teria mais valor se viesse acompanhado de medidas práticas a favor dos descendentes dos primeiros habitantes do Brasil.
Não se trata de apenas demarcar reservas. Esse é só o primeiro passo, até porque uma área indígena não é cercada. Fica vulnerável quando o Estado está ausente.
Um caso emblemático ocorreu no final do ano passado e no início do atual. Foi em Mato Grosso do Sul. O Estado é governado pelo PT há seis anos. No plano federal, a Funai e a Funasa (que cuida da saúde dos índios) estão sob comando lulista. Ainda assim, o número de morte de crianças índias disparou nos últimos meses. Alguma epidemia? Não. Muitas mortes pela mais primitiva das deficiências: desnutrição.
No país do Fome Zero e do R$ 1 bilhão torrado por ano em propaganda estatal federal, indiozinhos morrem de fome. O governo apareceu com as explicações de sempre, até que, nesta semana, ficou público como age a Funasa em Mato Grosso do Sul.
Comandada por um sindicalista petista, a Funasa sul-mato-grossense é protagonista de uma infeliz coincidência. No mês de dezembro, quando o problema de desnutrição dos indiozinhos estava se agravando, o órgão responsável pela saúde indígena torrou R$ 295,1 mil em conserto de carros. O contrato total, para 12 meses, é de R$ 1,060 milhão. São 72 automóveis e 26 motocicletas. Dá uma média anual de R$ 10,8 mil por unidade.
Pode ser que os carros do governo federal quebrem muito. Pode ser que os motoristas da Funasa sejam imprudentes. Pode ser que as estradas sejam uma porcaria. Pode tudo. O que não é compreensível é gastar essa fortuna para consertar automóveis e indiozinhos morrerem de fome. E, ao mesmo tempo, assistir ao pedido de perdão de Lula em Brasília.
FOLHA DE S.PAULO

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