Em mais uma pérola do colar de improvisos do seu governo oral, o presidente Lula acaba de descobrir que o traseiro vadio dos que passam horas nos bares no papo fútil com os amigos é o responsável pelos juros na lua cobrados pelos bancos dos que usam e abusam dos cartões de crédito e nos chorados empréstimos para acudir às aperturas do fim do mês.
No embaralhado raciocínio presidencial, para usar a simplicidade do seu pitoresco linguajar, o cara que beberica escarrapachado no botequim, de preferência na sexta-feira, ''está lá xingando banco, os juros, o cartão de crédito dele, mas no dia seguinte é incapaz de levantar o traseiro da cadeira e ir ao banco mudar sua conta para um mais barato''. A conclusão simplista aponta o traseiro comodista como responsável pela ganância da rede bancária e pelos estratosféricos juros cobrados dos que caem na lábia das ofertas de crédito acolchoadas por sedutoras facilidades.
Na mesma toada da descompostura aos traseiros irresponsáveis, o presidente espinafra o conformismo comodista e indica a rota de saída em conselho enérgico: ''se as pessoas tivessem consciência ninguém pagava 8% de juro ao mês''. Reafirma a sugestão da greve dos traseiros culpados: ''Ninguém pagava, até porque não é o pobre que tem cartão de crédito. É uma classe mais sabida, de maior posse''.
Murcho, com a carapuça enterrada até o queixo, rumino a minha defesa de modesto esfolado pelos juros cobrados pelo uso rotineiro de cartões de crédito.
Creio que falo em nome da provável maioria das nádegas injuriadas. De logo, insisto: se muitas das contas bancárias são abertas pelas empresas para o crédito do pagamento aos seus empregados, o que sobra para o exercício da cidadania do traseiro não é lá grande coisa. Na mesma toada das desculpas, poucos dispõem de vagares e paciência para a ronda dos bancos na caça aos juros camaradas.
É o de menos. Se o presidente trata-nos como íntimos, companheiros de rodadas de chope, a resposta deve ser no mesmo tom. Na mesma terceira página do JB de ontem - que registra o improviso presidencial na solenidade, no Palácio do Planalto, para a sanção da lei que criou o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado, e que, apesar do rebuscado nome de batismo, merece aplauso, pois alivia o sufoco dos microempreendedores ao facilitar empréstimos bancários a juros menores - matéria de Brasília detalha o aborrecimento de Lula com a última proeza do Copom do Banco Central que elevou a taxa básica de juros à altura tonteante de 19,5%, a mais alta do mundo.
Se o camarada Lula não consegue arrumar a casa de todos, não é razoável o cara cobrar do traseiro alheio o que o seu não consegue fazer em benefício da população.
Depois, com toda a franqueza, o movimento grevista que a viva memória do grande líder sindical das memoráveis greves de 1978, 79 e 80 dos metalúrgicos do ABC paulista exige das nádegas acomodadas dos bebedores de chope, não pode brotar de um movimento espontâneo. No caso, parece que caberia ao PT, nascido no caldeirão fervente das greves, assumir a iniciativa de seguir o conselho do seu presidente e sair dos gabinetes onde futrica e tricotava a crise interna, na briga das muitas alas e dissidências pelo comando do partido. No momento, Lula e a maioria do PT estão ocupados em salvar a reeleição do presidente no desafio de daqui a um ano e oito menos, em mais da metade do primeiro e desperdiçado mandato.
A correria esqueceu na estrada as denúncias à herança amaldiçoada dos oito anos de Fernando Henrique Cardoso. Desculpa gasta pelo excesso de uso. Aterrando na realidade, o presidente entoa a louvação dos miúdos êxitos registrados na pasmaceira dos 35 ministros e sonha grande para a arrancada na reta da chegada.
O resgate dos quatro anos em um. O ás de ouro da última rodada é a transposição das águas do Rio São Francisco para a perenização de rios do Nordeste, que secam nas estiagens. Tudo pronto para a largada, à espera do parecer favorável do Ibama, analisando o impacto ambiental.
Apostas ambiciosas complementam o esquema da reeleição, como a implantação de 4.600 quilômetros de novas redes de gasodutos; o início da Transnordestina, a ferrovia que ligará nove estados nordestinos, além de cartas menores. Se sobrar algum, cogita-se de um mutirão para tapar os buracos da rede rodoviária em pandarecos.
Sonhar embala o sono. O otimismo de Lula sustenta a confiança na sua popularidade e desdenha o tropicão de 6% na última pesquisa. Quanto ao PT, que se arranje como puder. Lula está em tempo de murici. Cuida de si. Os traseiros do PT que se danem.
JB
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 27, 2005
Villas-Bôas Corrêa: A greve das nádegas
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