Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 13, 2005
Merval Pereira:O jogo do poder
ANCARA, Turquia. Não somente os Estados Unidos estão preocupados com a conferência “Mundo Árabe-América do Sul”, que o governo brasileiro vai realizar mês que vem em Brasília. Também Turquia e Irã tentaram em vão participar da reunião, nem que fossem como observadores, fazendo com que sua temática se ampliasse do mundo árabe para o mundo islâmico.
A posição do Itamaraty foi a mesma que adotou diante da consulta americana: não aceitou que Turquia e Irã participassem, alegando, como fizera oficialmente diante da consulta do governo dos Estados Unidos, que a reunião é puramente econômica, para explorar oportunidades comerciais entre o mundo árabe e a América do Sul.
O que parecia uma mera desculpa para evitar a participação americana na cúpula acabou se revelando uma cuidadosa estratégia de relações exteriores, pois evita politizar a reunião que, além de preocupar os Estados Unidos, inquieta também Israel, que várias vezes neste governo ficou de fora dos roteiros oficiais de viagens de autoridades brasileiras, uma delas do próprio presidente Lula, que visitou países árabes sem ir a Israel.
Em diversas ocasiões o chanceler Celso Amorim reafirmou que a cúpula de Brasília não será contra ninguém, mas a favor da economia de duas importantes regiões do mundo. Na verdade, o governo brasileiro mata dois coelhos com essa cúpula, que é a primeira que se realiza e vem sendo planejada desde a gestão do ex-chanceler Celso Lafer.
Ao mesmo tempo em que se aproxima comercialmente dos países árabes, que têm uma imensa capacidade de investimento, mas nunca focalizaram o Brasil — com 15 milhões habitantes de origem árabe — nem a América do Sul como prioritários, assume seu papel de liderança política regional, promovendo um encontro que pode ser muito proveitoso para países da América do Sul que necessitam de investimentos, especialmente em infra-estrutura.
É evidente que esses encontros, embora de cunho econômico, guardam um toque político inevitável, e é esse aspecto da reunião que preocupa tanto Estados Unidos quanto Israel. Uma aproximação entre o presidente da Síria, Bashar al-Assad, e o da Venezuela, Hugo Chávez, pode ter efeitos políticos explosivos, mas não cabe aos Estados Unidos monitorarem essa eventualidade.
O mesmo problema está tendo o governo da Turquia, com a política de aproximação independente com os vizinhos Síria e Irã, além de sua posição em relação ao Iraque. A Turquia não deixou que as tropas americanas usassem seu território durante a invasão, e até hoje o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, atribui a isso a maior resistência iraquiana.
Agora também o governo americano tentou evitar que o primeiro-ministro da Turquia, Recep Erdogan, visitasse Damasco na próxima semana. Uma declaração pública do embaixador americano contra a visita criou um embaraço diplomático que acabou tirando-o do cargo, mas fez com que fosse promovido a número três do Departamento de Estado, em Washington.
O Brasil, com uma diplomacia ativa em relação aos países árabes, pretende também ampliar os espaços políticos para que a democracia seja disseminada na região, através de reformas estruturais que possibilitem a valorização dos direitos humanos. Este é um papel que os Estados Unidos se atribuem, sem que sejam os melhores canais para tal.
Aqui em Ancara, na reunião promovida pela Academia da Latinidade, as questões políticas estão sendo debatidas mais abertamente, sem os entraves diplomáticos, por ser uma reunião acadêmica, realizada em uma universidade privada, a de Bilkent, sem a interferência de nenhum governo.
Já o fato de a temática do encontro ser mais ampla do que simplesmente abordar o mundo árabe, mas sim o mundo islâmico, dá a indicação do caminho que a discussão vem tomando. Dentro de um quadro instável regional, a entrada da Turquia na União Européia aumenta a polêmica. É um país de 75 milhões de habitantes, que, aceito, será o maior da comunidade, embora tenha a maior parte do território na Ásia e caminhe para o islamismo. Com todo o problema dos curdos a lhe pesar nas costas.
As posições críticas com relação aos Estados Unidos e à maneira unilateral e hegemônica como estão sendo conduzidas as relações com os países islâmicos depois dos atentados terroristas de 11 de setembro são dominantes entre os palestrantes. E o papel da Turquia nesse alargamento dos horizontes políticos da União Européia, em contraposição à hegemonia americana, também vai dar muito o que debater.
Todos os oradores, ontem, na abertura do simpósio — do presidente da Universidade Bilkent, Ihsan Dogramaci, ao senador Cristovam Buarque e ao secretário-geral da Academia da Latinidade, Candido Mendes — ressaltaram a necessidade de serem erigidas pontes de entendimento entre o Ocidente e o Oriente. O ministro das Relações Exteriores da Turquia, Abdullah Gul, enviou uma mensagem em que também destaca essa necessidade de ampliação do diálogo.
O vice-ministro de Relações Exteriores do Irã, Hamid Reza Asefi, que é o porta-voz do governo iraniano — um dos componentes do “eixo do mal” denunciado pelo presidente Bush — fez um discurso marcado pelo tom religioso, com uma análise histórica do relacionamento entre o cristianismo e o islamismo, chamando a atenção para suas raízes comuns.
Ele sugeriu diversas medidas para superar os desentendimentos que, na sua análise, acontecem em grande parte devido à manipulação da mídia com fins políticos. Reza Asefi sugere, entre outras coisas, que o aspecto religioso dos conflitos seja compreendido e que se faça esforços para que não seja utilizado indevidamente, colocando um fim a discriminações religiosas e a atos de sacrilégio contra outra crença.
O Globo
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