Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, abril 13, 2005
Miriam Leitão:Velhas e novas
Todas as fortes mudanças no discurso do PT estão no documento do Campo Majoritário aprovado no fim de semana. Admirável o esforço que o grupo que domina o partido faz para tentar provar que sempre pensou o que defende hoje. Ele credita ao governo Lula a estabilização da economia, diz que Fernando Henrique “varreu o pó inflacionário para debaixo do tapete”, não condena a privatização nem a abertura e defende a independência das agências.
O partido que um dia entrou no Supremo contra a Lei de Responsabilidade Fiscal a define hoje como “necessidade de haver limites à dispersão de recursos”. O partido que votou contra todas as reformas da Previdência, chegou ao poder, fez sua própria reforma e defende a necessidade de outras argumentando que as “regras de aposentadoria ainda não observam o fenômeno do aumento da expectativa de vida”. E lembra que “o tema está em pauta de praticamente todos os países”. O partido que protestou contra as agências reguladoras hoje tem outra visão sobre o assunto. Acha que “antes de tudo, as agências são entes públicos” e explica que a independência delas é necessária porque “uma agência existe para resistir às pressões de curto prazo, sejam as de natureza eleitoral, sejam as emanadas dos grupos econômicos diretamente interessados”.
O texto tenta encontrar o caminho que ligue o velho PT ao novo PT. Em vez de simplesmente dizer que mudou de idéia ao chegar ao poder e ao verificar na prática as duras exigências de governar um país complexo, com grande potencial e poderosos constrangimentos, o texto da maior corrente do PT foi escrito como se houvesse uma continuidade natural entre uma coisa e outra. O partido que antes propunha o rompimento com o FMI, a revisão das dívidas externa e interna, que foi contra a abertura da economia, combateu a privatização e foi contra o Plano Real até muitos anos depois que ele já havia feito o trabalho de superar a superinflação brasileira, hoje vê tudo diferente. O amadurecimento do PT foi fundamental no processo político-econômico brasileiro, mas não deixa de ser curioso o contorcionismo programático que faz a corrente majoritária para tentar provar o improvável: que ele sempre defendeu o que defende hoje.
Tudo se passa como se a estabilização da economia, o boom das exportações, o bom momento econômico fossem uma dádiva do atual governo. O texto diz que “o trabalho essencial de ajuste da economia brasileira que empreendemos criou as bases para um novo padrão de desenvolvimento, que é a característica marcante e diferenciadora do governo do nosso partido em relação ao governo anterior e, de modo geral, aos governos pós-democratização”.
Na realidade, houve um processo contínuo de melhora do país, de ganhos que foram sendo confirmados por outros governos, e que nos levou a uma situação de grande chance hoje. O texto credita ao governo Lula o aumento das exportações e diz que nos governos anteriores houve “desindustrialização”. Ora, se tivesse havido isso, não estaríamos vendo o boom de exportação de manufaturados. Não há milagre em economia, há processos bem-sucedidos e eles são mais bem-sucedidos quando há uma continuidade, como houve no Brasil.
O documento diz que no governo Lula “a questão social voltou a ganhar fôlego, após anos de prioridade quase que exclusivamente restrita à estabilização da economia”. Neste trecho, quase aparece o velho PT, o que achava que a estabilização poderia ser abandonada por outros ideais. O novo PT já sabe que manter a inflação exige vigilância e que isso é base para construção de qualquer projeto futuro. O novo PT já sabe também que: “O imposto inflacionário mostrou sua face cruel com os mais pobres, estabelecendo decorrências regressivas que pioram a já péssima distribuição de renda, desorganizando a atividade econômica, produzindo resultados negativos sobre os investimentos e sobre o crescimento de longo prazo.” Absolutamente correto; e é por isso que o país investiu tantos anos em superar a inflação, na época em que o PT protestava contra o que considerava ser excesso de prioridade em estabilização em vez de crescimento. Hoje, no texto, o partido diz que não há conflito entre estabilização e crescimento; entre mercado interno e externo.
É da natureza do discurso político desmerecer o trabalho feito pelos partidos adversários nem que seja nas palavras. Isso é o que explica a definição do governo anterior: “O modelo de estabilização adotado nesses anos varreu para debaixo do tapete o pó inflacionário.”
A dívida mobiliária aumentou muito. Aumentou mesmo, mas o texto faz um truque. Usa o dado nominal para mostrar que a dívida cresceu no governo passado de R$ 61 bilhões para R$ 623,2 bilhões. É fato. Mas esqueceu de fazer a conta para seu próprio período: hoje a dívida mobiliária é de R$ 845,4 bilhões. Seria injusto acusar o PT de ter aumentado a dívida em 35,6%. Mas é isso que um próximo governo pode dizer, acusando-o da mesma coisa de que ele acusa o governo anterior: “A manutenção da taxa básica de juros em patamares elevados aumentou fortemente os encargos da dívida.”
O PT passou por um processo de mudança programática. Antes, achava que tudo dependia da vontade política. Hoje já sabe que governar é bem mais difícil.
O Globo
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