ANCARA, Turquia. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu para o sociólogo francês Alain Touraine, seu amigo e ex-professor, que o PSDB está pressionando muito para que ele aceite ser candidato ao governo paulista.
Os dois se encontraram semana passada em Paris, na volta de Fernando Henrique de Roma, onde foi assistir aos funerais do Papa João Paulo II na comitiva do presidente Lula. Brincando com o fato de que a delegação brasileira tinha mais presidentes do que a dos Estados Unidos, Alain Touraine elogiou a iniciativa de Lula de convidar Fernando Henrique para a viagem.
Considerou o gesto, depois de críticas duras de parte a parte, uma continuação do clima que presidiu a transição de governo na vitória de Lula em 2002, e não escondeu a satisfação de ter sido um dos que trabalharam por essa transição democrática, que tanto marcou a política nacional.
Touraine, que está aqui em Ancara participando do seminário sobre o Islã promovido pela Academia da Latinidade, ficou com a impressão de que Fernando Henrique estava falando sério quando lhe repetiu que não aceitaria se candidatar à Presidência da República e muito menos ao governo de São Paulo.
Mas acrescentou, prudente, com o conhecimento que tem do homem e do político: “Não acredito que ele fale toda a verdade para todas as pessoas”. De qualquer maneira, Alain Touraine lembra que, elegendo-se governador de São Paulo, Fernando Henrique se tornaria mais ainda o pólo político central de oposição a Lula. Ressaltando que José Serra, outro amigo seu, está na prefeitura da capital paulista, diz que Lula teria sérios problemas em seu segundo mandato com o maior estado brasileiro reafirmando seu caráter oposicionista nas mãos dos dois principais atores políticos do PSDB.
Isso porque, discordando da avaliação de Fernando Henrique, o sociólogo francês acha que dificilmente Lula será derrotado em 2006. Touraine chega a dizer que o prestígio internacional de Lula é ainda maior que o de Fernando Henrique, pela agressividade de sua política externa e pela própria história de vida.
Além do mais, Touraine acha que “a questão econômica está muito bem resolvida”. Para ele, o crescimento do mercado interno brasileiro é muito sólido, “especialmente devido à política de crédito popular que está sendo praticada”.
O ex-presidente Fernando Henrique repetiu para Touraine em Paris o que vem falando a seus pares do PSDB: o governo Lula erra muito, e há chances concretas de o PSDB ganhar a próxima eleição presidencial. Pela análise de Fernando Henrique, a política não deve ser feita só de êxitos econômico-financeiros, até porque eles não dependem necessariamente de quem está no governo e assim como vêm, vão. O ex-presidente está convencido de que temos pela frente complicações econômicas internacionais que colocarão à prova as convicções sobre política econômica do governo Lula.
Fernando Henrique insiste que é necessário manter acesa a chama de outros valores que o PSDB preza tanto, e que têm sido postos à margem pelo que ele chama de “vorazes lá de cima”. A questão do “aparelhamento do Estado” pelo PT, com o inchaço da máquina pública com novas contratações, é um dos pontos críticos do governo Lula, segundo a análise de Alain Touraine.
No campo da organização do Estado ele via um dos grandes avanços do governo de Fernando Henrique, que estaria sendo desmontado no governo Lula pela decisão de pôr petistas em postos chaves da administração, sem que a qualificação técnica seja prioridade.
O ex-presidente Fernando Henrique continua achando que o PSDB encontrará, no seu devido tempo, o candidato ideal para disputar com Lula em 2006, e acha que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deve se tornar cada vez mais porta-voz das insatisfações e das críticas. Segundo Fernando Henrique tem orientado seus pares, é preciso que a posição do PSDB transpareça com clareza para que, quando houver refluxo do lulismo, o partido possa capitalizar as insatisfações.
O ex-presidente acha que existem quatro ou cinco pré-candidatos do PSDB ao governo paulista, e um deles terá condições de vencer com a ajuda de Geraldo Alckmin, de José Serra e dele próprio. Fernando Henrique tem dito a vários interlocutores nos últimos dias que São Paulo tucanou, e que por isso acredita que o partido pode fazer o sucessor de Alckmin.
Na conversa com Alain Touraine, o ex-presidente fez pesadas críticas à gestão da ex-prefeita Marta Suplicy, reafirmando as acusações que Serra vem fazendo. O problema é que as mais recentes pesquisas de opinião pública mostram que José Serra, três meses apenas de empossado no cargo, já amarga uma rejeição de 70% do eleitorado, enquanto o governador Geraldo Alckmin também cai na aprovação dos paulistas.
O prefeito José Serra, o candidato de oposição a Lula que melhor aparece nas pesquisas para a Presidência da República, é uma possibilidade concreta para o PSDB na sucessão de 2006, apesar de ter prometido não sair da prefeitura, onde estará há pouco mais de um ano no início da campanha presidencial. Mas antes terá que recuperar seu prestígio na capital paulista, o que parece tarefa difícil e de longo prazo.
A disputa entre PT e PSDB continua sendo fundamentalmente pelo espaço político paulista. O PT, com excesso de candidatos e de brigas internas, e o PSDB, com raras e difíceis opções.
Jornal O Globo
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