Entrevista:O Estado inteligente
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quinta-feira, abril 14, 2005
Augusto Nunes:O povo desconhece a própria força
O Brasil haverá de descobrir sem tanta tardança um dos trunfos que fazem da democracia o melhor dos regimes. Tal esperança se apóia em dois episódios ocorridos no primeiro trimestre deste 2005. Ambos se prestaram a demonstrar que movimentos bem articulados, traduzidos em reivindicações objetivas a pressões vigorosas, permitem à sociedade modificar rumos tramados na Praça dos Três Poderes.
O Executivo manda muito, sobretudo numa república presidencialista como a brasileira. O Legislativo dispõe de arsenal respeitável, além de incontáveis paióis atulhados de truques e espertezas. O Judiciário consolidou a blindagem, forjada por normas legais, que o tornaram quase indevassável. Mas o povo tem uma arma incomparável: o título de eleitor.
Quando aprender a usar o voto como instrumento de luta, um belo enunciado constitucional – “Todo poder emana do povo, e em seu nome será exercido” – deixará o território da fantasia para entrar em vigor no mundo real. Ocorreram, insista-se, ao menos dois avanços na travessia que conduz a um Brasil efetivamente civilizado. Vale a pena registrá-los, mas é cedo para celebrações. Foi muito pouco para uma longa estrada.
Os episódios teriam sido ainda mais animadores se não interferisse nos seus desdobramentos um dos traços lastimáveis do temperamento nativo: a tendência para a capitulação diante de inimigos especialmente perseverantes. O obsceno aumento do salário dos deputados, anunciado sem pudores pelo presidente da Câmara, tropeçou na indignação de milhões de brasileiros.
Os próprios parlamentares acharam perigoso endossar tamanha afronta . E o aumento não saiu.
Severino esperou a poeira baixar para chegar, pela trilha do pântano, à bolada que não alcançara em conseqüência do bloqueio da estrada principal. A quantia que não fora anexada ao salário mensal acabou incorporada às verbas de gabinete, que completam os admiráveis proventos dos pais da pátria. Não se registraram reações coletivas consideráveis. O mesmo Brasil que lograra semanas antes uma vitória histórica rendeu-se sem combate à ofensiva retomada por arrombadores de cofres públicos.
O segundo avanço civilizatório consumou-se com a pulverização da Medida Provisória 232. Teoricamente destinado a abrandar os tormentos de quem paga imposto de renda, o texto do documento, redigido em burocratês, aumentava perversamente a carga tributária imposta a pequenas empresas e profissionais liberais. A mobilização dos setores castigados imobilizou os punguistas federais, e a esperteza foi engavetada. Mas a Receita Federal tem reafirmado que vai precisar de recursos adicionais para sustentar a gastança do governo. Vêm truques por aí. Caso se repita a capitulação das vítimas, seus bolsos sofrerão outro ataque.
Severino Cavalcanti, um velho clown que virou dono do circo sem renunciar ao picadeiro, tem colecionado aparições pelo país, sempre precedidas de faixas que reiteram duas falácias. Uma celebra “o homem que impediu o aumento de tributos”. Falso: ele apenas foi atropelado pela pressão da sociedade. Outra homenageia “o defensor da família”. Só se for a própria.
Pelas outras, Severino tem o mesmo interesse que lhe despertam os anéis de Saturno. O patriarca cuida mesmo é do clã, infenso ao fenômeno do desemprego. Um filho do deputado, aliás, acaba de ganhar um cargo federal em Pernambuco. O ultimato a Lula complicou a ascensão ao ministério de um senador amigo. Tudo bem. A rezadeira no AeroLula abençoou a reaproximação dos desavindos. E o emprego saiu.
Pena que os homens e mulheres do Brasil decente ainda ignorem a própria força. Se conhecessem o poder do voto, tratariam de mover-se para mostrar quem manda. Como não conhecem, ficam estacionados na torcida pela escolha de um papa brasileiro.
JB Online
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