Perto de 5 milhões de pessoas na Colômbia e em 170 cidades
do mundo saem às ruas para pedir o fim do narcoterrorismo
Diogo Schelp
Carlos Julio Martinez/AFP |
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Os colombianos não têm dúvidas sobre quem são os inimigos do povo em seu país. Na segunda-feira de Carnaval, estima-se que 5 milhões de pessoas tenham saído às ruas em 170 cidades, de Medellín a Tóquio, para demonstrar seu repúdio às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Só em Bogotá foi mais de 1 milhão de manifestantes, o que significa um em cada sete habitantes da capital colombiana. Nas camisetas e nos cartazes, pedia-se o fim das Farc e dos seqüestros, uma das principais fontes de renda do grupo terrorista (o dinheiro grosso vem do narcotráfico). O protesto, o maior já realizado contra a narcoguerrilha, é uma resposta àqueles que, como o presidente venezuelano Hugo Chávez, atribuem legitimidade política às Farc. Os manifestantes colocam esse conceito em questão: como é possível aceitar como interlocutor político um grupo armado que mantém 800 pessoas seqüestradas, massacra os moradores dos vilarejos para subjugar os sobreviventes, recruta crianças à força e comete atentados com bombas nas cidades maiores? Uma pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, no mês passado, mostra que 96% dos colombianos rejeitam as Farc e seus métodos. Álvaro Uribe, eleito duas vezes presidente da Colômbia com um programa de combate aos terroristas, usufrui 83% de aprovação popular.
Desde 2000, quando o Gallup começou a monitorar o conceito do grupo terrorista entre os colombianos, a rejeição se mantém acima dos 87%. O repúdio às Farc foi realçado recentemente pela libertação de duas reféns, Clara Rojas e Consuelo González. Por intermédio dos depoimentos delas e de cartas enviadas por vítimas ainda em poder dos terroristas, soube-se em vívidos detalhes as torturas às quais são submetidos os seqüestrados em seu cativeiro na selva. As grandes manifestações da semana mostram que os colombianos perderam o medo de expor sua indignação e dor, mesmo sabendo que as Farc costumam adotar represálias sangrentas e indiscriminadas contra a população civil. Processo semelhante ocorreu com o ETA, o grupo terrorista separatista da Espanha. Foi apenas quando os espanhóis deixaram o silêncio de lado, no fim dos anos 90, e passaram a demonstrar de forma coletiva repúdio aos terroristas bascos que os partidos políticos se uniram contra o terror.
Andrea Comas/Reuters |
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Na Colômbia, pouco a pouco os eufemismos estão sendo trocados por classificações que refletem com maior clareza a natureza das Farc e de suas táticas criminosas. Neste caso, as palavras corretas são importantes: "terroristas" em lugar do eufemismo "guerrilheiros"; "seqüestrados", e não "reféns políticos", como escreve a imprensa esquerdista. No passado, os moradores de Bogotá evitavam aglomerações populares, como as da última semana, por temor a atentados com carros-bomba. Uribe merece o mérito pela mudança. Seu governo foi o primeiro a empurrar a violência das Farc para fora das cidades. Entre as poucas personalidades da Colômbia que evitam condenar as Farc estão políticos de extrema esquerda, que compartilham a mesma ideologia totalitária, e alguns parentes de seqüestrados. Os primeiros estão fadados a ser esmagados nas eleições. Os segundos, entre os quais a mãe de Ingrid Betancourt, seqüestrada há seis anos, quando concorria à Presidência do país, exercem a cautela de quem tem uma missão pessoal: libertar um parente. Nenhum deles representa a vontade da maioria na Colômbia.