A Al Qaeda usa mulheres com síndrome
de Down em atentados no Iraque
Mahmoud Raouf Mahmoud/Reuters |
Soldado iraquiano ao lado de objetos dos mortos em atentado em Bagdá |
A ação terrorista não carece de adjetivos. Diante de uma massiva atrocidade cometida contra civis indefesos, de modo geral é ocioso qualificar o ataque como terrível ou monstruo-so – a própria palavra terrorismo traz esses adjetivos implícitos. Apesar disso, no circo de horrores do fanatismo islâmico há atentados cujo grau de perversidade conduz os terroristas a uma dimensão quase inacreditável de desumanidade. Viu-se isso na sexta-feira véspera de Carnaval, quando a filial iraquiana da Al Qaeda explodiu, por telefone celular, duas pobres mulheres com síndrome de Down em pontos movimentados de Bagdá. Uma delas, carregando um colete de explosivos sob o manto islâmico, foi explodida em um mercado de animais de estimação. Vinte minutos depois as bombas escondidas numa sacola levada pela segunda mulher, em outra feira da cidade, foram detonadas. O artefato estava recheado de pregos, de modo a aumentar o número de vítimas. Uma centena de pessoas morreu. A cabeça das mulheres-bomba, única parte do corpo resgatada após os atentados, permitiu constatar que as duas tinham síndrome de Down. Nos últimos três meses, mulheres-bomba foram usadas em oito atentados no Iraque – quase metade do total desde o início da guerra.
Valer-se de pessoas com deficiência mental reforça um fato já conhecido – a absoluta falta de escrúpulos da Al Qaeda – e sugere uma novidade: o terrorismo islâmico encontra agora dificuldades em recrutar suicidas. A ingenuidade que caracteriza as pessoas com síndrome de Down serve bem ao propósito dos terroristas. "Os portadores da síndrome têm capacidade menor de discernir a complexidade dos valores morais que formam a base de uma sociedade", diz o pediatra Zan Mustacchi, do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo. Lógica similar vale para o recrutamento de crianças. O Exército americano divulgou, na semana passada, vídeos que mostram o treinamento de meninos para a atividade terrorista. O resultado dessa doutrinação já é conhecido. No mês passado, um adolescente de 13 anos acionou seus explosivos em uma reunião tribal na província de Anbar, matando três pessoas.