Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Celso Ming - Sem riscos



O Estado de S. Paulo
26/2/2008

Na semana passada, a balança comercial brasileira apontou o primeiro déficit (importações maiores do que exportações) em uma semana. É um número relativamente pequeno (US$ 81 milhões) que, no entanto, chegou a disparar algumas luzes amarelas, como se alguma coisa de errado estivesse acontecendo nas contas externas, justamente onde a economia vai dando espetáculo.

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, tomou a iniciativa de explicar que se trata de um fato episódico sem capacidade de definir tendência.Desde o terceiro trimestre de 2007, os analistas esperam déficit nas contas correntes que, além do comércio, contabiliza os serviços e as transferências unilaterais. O Banco Central (BC) espera resultado negativo de US$ 3,5 bilhões, enquanto o mercado, auscultado pelo próprio BC (Pesquisa Focus), trabalha com déficit de US$ 7,9 bilhões.

Mas, na balança comercial, a expectativa tanto do BC como do mercado é de superávit mais baixo do que os US$ 40 bilhões registrados em 2007, mas, ainda assim, um forte superávit, de US$ 30 bilhões.

Há alguns anos os críticos da atual política macroeconômica vêm advertindo que a valorização do real conduzirá inexoravelmente ao déficit comercial, porque desestimula exportações, na medida em que deixa o produto brasileiro mais caro em moeda estrangeira, e estimula importações ao baratear em reais o produto estrangeiro.

Não é o que está ocorrendo. As exportações avançam neste ano em ritmo mais forte do que em 2007. Estão crescendo a 22,4% ao ano, tomado este número como medida de crescimento da média por dia útil. No ano passado inteiro, aumentaram 16,6%.

A diferença está em que as importações crescem com ainda maior vigor, nada menos que 51,2% nas primeiras oito semanas do ano, quando comparadas a igual período do ano anterior.

O ministro Miguel Jorge lembra que entradas de petróleo e trigo ficaram fortemente concentradas no início de fevereiro e distorceram os números.

Mas é precipitado avançar com informações que abrangem um período tão curto. O que já dá para notar é que o avanço das importações não se concentra nos itens de consumo. Está forte na área de máquinas e equipamentos (bens de capital) e de matérias-primas, o que confirma o bom momento do setor produtivo, tanto da agricultura como da indústria, e a forte disposição de investir em mais capacidade.

A atualização das contas externas divulgada ontem pelo BC aponta para a mesma direção. Em janeiro, os investimentos estrangeiros diretos cresceram quase 100% em relação a janeiro de 2007, de US$ 2,4 bilhões para US$ 4,8 bilhões. Isso ajuda a explicar por que as cotações do dólar continuam caindo por aqui, apesar da menor entrada de moeda estrangeira pelo fluxo comercial.

As contas externas do Brasil nunca estiveram tão saudáveis. Se alguma correção tiver de ser feita, nada melhor do que esperar que o câmbio flutuante o faça naturalmente. Se as importações aumentarem demais, ele refletirá o aumento da procura por moeda estrangeira, e se encarregará de corrigir a cotação do dólar e de reequilibrar as contas externas. É assim que funciona.

Credor externo - O Banco Central divulgou ontem o saldo da dívida externa em janeiro. Na semana passada, chegou a festejar a posição de credor externo líquido em US$ 4 bilhões. O número final é US$ 7 bilhões.


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